PARTICIPAÇÃO
Luís Dores
Carlos Costa
Carlos Parreira
REALIZAÇÃO
Miguel Costa
Rogério Sousa
CAPTAÇÃO DE SOM E IMAGEM
Fábio Couto
Jordana Vasconcelos
EDIÇÃO E PÓS-PRODUÇÃO SOM E IMAGEM
Fábio Couto
DESIGN E GRAFISMO
Marco Pereira
Fábio Couto
DESIGN E GRAFISMO
Marco Pereira
Fábio Couto
PRODUÇÃO
Associação Cultural Burra de Milho
APOIO
Governo dos Açores – Direção Regional da Cultura
AGRADECIMENTOS
Carlos Manuel da Silva Parreira
Carlos Armando Ormonde da Costa
Luís Alberto Dores
FOTAÇOR
FOTO ÍRIS
Rádio Club de Angra
Hélio Borges
BANDA SONORA
O Grande Humilde
Executado por ARANHA
Cedido por Luís Dores
House of the Rising Sun (original popular)
Executado por THE ANIMALS (1965)
Retirado de www.archive.org
Copyright used under Creative Commons
Show me the way (Peter Frampton)
Executado por BÁRBAROS
Cedido por Luís Dores
Gravação ao vivo Musical Açores 1976
Phoenix
Blackstones
Bárbaros
José Berto
Gravado por Rádio Club de Angra
Cedido por Luís Dores
SOBRE
HISTÓRIA
Antes, apenas uma esporádica edição do Festival Vilar de Mouros, que só tornaria a ver a luz do dia na sua segunda edição, em 1982, e nada mais.
O Festival
Realizado na cidade da Praia da Vitória, ilha Terceira, Açores, numa praia então denominada de Praia da Riviera, o
As duas primeiras edições foram tão bem sucedidas que a terceira edição era já aguardada com grande expectativa por parte da população residente na ilha. A organização planeava já contactos com bandas internacionais, inglesas,
Vários entraves, destacando-se a pouca vontade das forças governativas em permitir a realização de um evento musical com demasiadas semelhanças com o
Em 2017 perfazerem 40 anos sobre a segunda e última edição do Festival
O Festival
Pretende-se homenagear o espírito empreendedor, criativo e aventureiro destes então jovens rebeldes que, num período extremamente conturbado a seguir ao 25 de abril, encontraram na música a materialização máxima da liberdade que acabavam de conquistar.
Com o crescimento do contingente da Base Aérea n.º 4, instalada na freguesia das Lajes, na ilha Terceira, e a sua grande importância geoestratégica, as necessidades de mão-de-obra diversificada foram suplantadas com recursos humanos locais, provenientes das mais diversas freguesias e com as mais diversificadas especialidades.
Esta opção de contratação levou a que houvesse uma forte interação entre os residentes na Base das Lajes (fossem eles portugueses ou norte-americanos) e os trabalhadores locais, residentes fora da Base.
Da mesma forma, ao longo dos anos foi-se criando uma grande aproximação entre a população residente na cidade da Praia, em primeira instância, e da ilha, por consequência, fazendo com que na ilha Terceira, a interação e convívio entre as culturas norte-americana e portuguesa fosse uma realidade quotidiana.
Filhos de norte-americanos residentes e trabalhadores locais tornaram-se amigos. Tornaram-se melhores amigos. Cresciam, brincavam e ouviam música juntos. Assistiam a filmes e experienciavam uma cultura de televisão a cores, de liberdade, de celebridades, e de muitas outras realidades não acessíveis à restante população dos Açores e até do continente português.
Este benéfico foco de expressão cultural, uma espécie de “microcultura” circunscrita à Base Aérea das Lajes e às suas redondezas, englobando naturalmente a cidade da Praia da Vitória, foi um importante dínamo cultural num concelho cuja população era de aproximadamente 27 mil habitantes.
Uma evidência clara desta “microcultura” em torno da população da Praia da Vitória foi o surgimento de bandas musicais locais, que atuavam regularmente nos clubes sociais da Base das Lajes, e com instrumentos musicais que só eram possíveis de adquirir dentro da própria base.
Algumas dessas bandas, como “Os Bárbaros” (Praia da Vitória) ou os “Açor” (Angra do Heroísmo), atuavam com bastante regularidade nesses clubes, com a interessante particularidade de terem dois repertórios – um com temas em inglês e outro com temas em português, que alternavam consoante o clube onde iriam atuar.
Numa altura em que os jovens portugueses receavam diariamente uma iminente chamada para o serviço militar no Ultramar, presos na ansiedade de um presente sem grande futuro, a Música servia por um lado como um “escape” natural à realidade e por outro como um forte elo de união entre os jovens.
Tal como no resto do mundo, a cidade da Praia não escapou a uma geração de jovens rebeldes da década de 60, inspirados por músicos e artistas norte-americanos do
E de repente, foi assim. Um grupo de amigos praienses, habituais frequentadores da sala de cinema norte-americana da Base das Lajes, assiste (alguns pela primeira vez) ao filme
A princípio, a ideia pareceu uma maluquice do Carlos Parreira e de alguns amigos mais próximos.
Algum tempo mais tarde, a maluquice já não era maluquice.
Depois, ficou a memória da maluquice geral.
BÁRBAROS
BLACKSTONES
PHOENIX
JOSÉ BERTO
MINI-BÁRBAROS
MINI-SOMBRAS
PEDRAS NEGRAS
POP-FIVE
REIART'S
SUNSHINE BAND
AÇOR
CARLOS MEDEIROS
Os Bárbaros foram uma das bandas que permanecerá na memória musical praiense e terceirense, depois de vários anos a animarem a Base das Lajes, clubes da Praia, assim como festas da ilha e dos Açores. Passaram pelo grupo, que deixou de atuar no final da década de 70, perto de 30 elementos. A inconstância dos seus elementos deveu-se maioritariamente à emigração de músicos e ao serviço militar.
Em abril de 2011, Os Bárbaros voltaram a reunir-se para um concerto no âmbito de um convívio praiense na Nova Inglaterra, que decorreu em Providence, Rhode Island, e que serviu de ensaio-geral para a atuação na Praia, durante as festas concelhias daquele ano.
Banda de rock experimental de improviso oriunda da BA4.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Formação - Zeca Medeiros, Luís Alberto Bettencourt, Manuel Matos Amaral, e João França.
Projecto de São Miguel na área do rock urbano com derivações para blues e música original.
O músico Luís Alberto Bettencourt não esteve presente no concerto na edição de 1976, por se ter casado nessa altura sendo foi substituído por João Severino.
Esta banda de referência local, foi a primeira a fazer concertos em Ponta Delgada, com música original em português.
José Berto, oriundo da Vila da Praia, Graciosa, onde nasceu em a 18 de dezembro de 1933. Frequentou o Liceu de Angra do Heroísmo e, mais tarde, concluiu com distinção o curso de piano no Conservatório Nacional de Lisboa.
Depois de concluir a sua formação, José Berto imigrou para os Estados Unidos onde trabalhou e formou família de onde teve 2 filhos. Mais tarde separa-se da mulher e regressa à Ilha Terceira onde exerce a profissão de professor.
Foi músico, maestro, compositor e poeta. Dedicou-se ao teatro e escreveu alguns livros como “José Berto”, “Crepúsculos” e o belíssimo livro de poemas “Mar de Escamas” (edição da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa, Angra do Heroísmo, 1977).
José Berto vinha a falecer no Centro de Saúde de Santa Cruz da Graciosa em 28 de Junho de 1999.
Sobre ele disse Manuel Lobão, amigo e poeta: “Era uma figura controversa. Não era uma figura que encaixasse nos moldes tradicionais, era uma figura com facetas estranhas, podemos assim dizer. Era um boémio, no sentido real do termo, e ele sabia que era. Era um indivíduo com uma sensibilidade à flor da pele, com uma agudeza de eespírito capaz de perceber determinadas coisas e capaz de as transmitir pelas palavras de uma forma bastante acutilante e bastante precisa e assertiva. A poesia de José Berto não era uma poesia simples, fácil de se ler. Era uma poesia de imagens. Imagens que povoavam todo um imaginário dele que o atormentavam por vezes – porque José Berto foi uma pessoa atormentada toda a sua vida, porque nunca conseguiu entrar em consonância com o mundo real. Vivia entre dois mundos paralelos – entre o mundo dele, um mundo de sonho, um mundo fantástico, e o mundo real, que era um mundo que o maltratava por vezes, até.”
(fonte: adaptado, entre outras fontes, de Vítor Rui Dores publicado na revista do Diário Insular em Fevereiro de 2008)
Banda de jovens da ilha Terceira que seguiam os seus ídolos: os Bárbaros.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de jovens da ilha Terceira que seguiam os seus ídolos: os Sombras.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de pop-rock da ilha do Pico.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de Pop-rock da ilha Terceira.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda rock de Angra do Heroísmo composta por Duarte Dores – Teclas, Jorge Azevedo – Baixo, Eduardo Ornelas – Guitarra e Paulo Borba – Bateria. O nome da banda é uma homenagem ao local onde ensaiavam “Recreio dos Artistas”.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de pop-rock da ilha Terceira.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de rock da ilha Terceira.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Carlos Medeiros fez parte de um movimento particular da música açoriana durante os anos 80 e 90, fazendo parte de grupos como os Toques, Cantinho da Terceira ou a Balada do Atlântico. Posteriormente foi colaborador do grupo de Coimbra Brigada Victor Jara. O músico terceirense tornou-se uma figura de culto no circuito da música tradicional portuguesa devido sobretudo aos dois trabalhos que editou em nome próprio: o single “Dança das Fitas” (2000) e o deslumbrante “O Cantar Na M'Incomoda” (1998), ambos produzidos por Luís Gil Bettencourt.
Mais recentemente colaborou com o projecto de recriação da música tradicional dos Açores, O Experimentar Na M'Incomoda, e é metade do duo Medeiros/Lucas que editou o disco Mar Aberto em 2015. Outra expressão do fôlego musical de Carlos Medeiros encontra-se no Trio Fragata, o trio de músicos da ilha Terceira que co-fundou e em que explora linguagens ligadas à música electro-acústica improvisada.
AÚDIO (ao vivo)
Gravado por: Rádio Club de Angra
Bárbaros - With a Little Help From my Friends
Phoenix - Rocking Racoon
Phoenix - Blues
Banda Desconhecida - I Can See Clearly Now
Blackstones - Improviso
Pedras Negras - Morning Sky
Banda Desconhecida - I Do Have Nothing
Bárbaros - Proud Mary
Bárbaros - Do It Anyway
José Berto - Piano Medley
Nota:
Existiam de facto mais gravações de atuações do Festival, mas uma grande parte desapareceu num incêndio nas instalações do Rádio Club de Angra. No entanto, se tiver conhecimento de algumas, ou mesmo em sua posse Clique aqui
DIÁRIO INSULAR
A UNIÃO
DIÁRIO INSULAR
DIÁRIO INSULAR
DIÁRIO INSULAR
Notícia
10 de julho de 1976
FESTIVAL “POP”
AÇORES – 76
Com 24 horas de música
No agradável local da Riviera, da freguesia do Cabo da Praia, terá hoje início pelas 14h00 o “Festival Açores-76” o qual se prolongará por vinte e quatro horas ininterruptas, ou seja das duas da tarde de sábado às duas horas da tarde de domingo. Ao Festival estarão presentes catorze conjuntos de música “Pop” das seguintes ilhas: de São Miguel 3; do Faial 2; do Pico um; e da ilha Terceira 8, sendo dois da Base Americana das Lajes.
O “Festival Açores-76” foi organizado por um grupo de jovens da Vila da Praia da Vitória e conta com o apoio da Comissão Regional de Turismo da Ilha Terceira.
O Rádio Clube de Angra assegurará durante a duração do Festival “Pop” apontamentos de reportagem do acontecimento e a partir das zero horas de domingo até às 7h00 daquele mesmo dia será efectuada uma transmissão directa. Até ao encerramento, o RCA realizará ainda outros apontamentos de reportagem pelo que fará deslocar à Riviera uma equipa de exteriores na qual se integram os locutores Duarte Nuno e João Pimentel.
Igualmente estará ali uma equipa técnica para proceder à gravação de um disco em “ltng-play” para divulgação comercial do aludido Festival, a qual é chefiada pelo técnico sr. José Eduardo Fernandes.
Desde ontem que já se encontra naquele local várias barracas armadas com parte dos correntes do Festival-76, em especial os das ilhas de São Miguel, do Faial e do Pico.
A UNIÃO
Reportagem: João Rocha
Fotografia: Mais informação
19 de setembro de 1998
RIVIERA HÁ 21 ANOS
Há cerca de 20 anos, os vossos pais, muito possivelmente, também pisaram o risco ao enfrentar longas noites musicais em pleno areal (na altura muito mais abastecido) da Praia a Vitória, totalmente indiferentes aos apelos paternais.
Sabe do que estamos a falar? ... Aqui fica: festivais de Música dos Açores, que decorreram nas primerias semanas de Agosto de 1976 e 1977 e que ficaram catalogados na memória colectiva como festivais da Riviera.
Música no areal da Praia Riviera no lugar da Saudade
Se o leitor estiver na faixa etária da adolescência/juventude leia com atenção o que se segue e, estamos convencidos, acabará deveras surpreendido.
Para já, admita que, pelo menos ao nível do pensamento, já chamou “caretas” ultrapassados” aos vossos pais sempre que levam uma ensaboadela da ordem após mais uma chegada tardia nas noites em que a porta de saída da discoteca é encontrada já nos últimos suspiros da madrugada.
“Já tens idade para ter juízo!”, “no meu tempo não era assim” são, por norma, os sons da retaliação paternal aos desmandos temporais dos jovens de hoje.
Não é que isto mate alguém, mas, convenhamos, mesmo tendo uma cabeça aberta a correntes de ar – tipo entra uma coisa pelo ouvido logo sai pelo outro-, a juventude, às vezes, também fica com os tímpanos a chiar e gostaria, certamente, de responder na mesma moeda.
Fazendo a vontade aos mais novos, aqui fica uma “dica” para o confronto verbal com os progenitores quarentões ou cinquentões, encalhados no comodismo de uma noite de televisão enrolados no sofá em perfeita conivência com as pulgas do animal de estimação.
Há cerca de 20 anos, os vossos pais, muito possivelmente, também pisaram o risco ao enfrentar longas noites musicais em pleno areal (na altura muito mais abastecido) da Praia da Vitória, totalmente indiferentes aos apelos paternais (os avós, se quisessem, podiam se uns perfeitos aliados dos netos...).
Sabe do que estamos a falar?... Aqui fica: festivais de música dos Açores, que decorreram nas primeiras semanas de Agosto de 1976 e 1977 e que ficaram catalogados na memória colectiva como festivais da Riviera.
Carlos Parreira, hoje empresário do ramo turístico, era, por aquelas alturas, um jovem saído da tropa fascinado pelo filme “Woodstock”, marcante para a geração dos anos sessenta.
Daí até fermentar a ideia de realizar um festival de música na Praia da Vitória foi um passo de caracol. Mesmo contando com a desconfiança dos seus colegas de organização – Carlos Costa (hoje empresário), Jorge Miguel (funcionário da SATA), Alfredo Goulart (empresário) e Luís Dores (emigrado nos EUA e ex-baterista dos “Sombras” e primeiro DJ da Twin’s Pub) -, Parreira lá conseguiu avançar com o festival em 1976, só com conjuntos locais, mas já com uma grande adesão de público que apanhou de surpresa a secção de trânsito da PSP, no tempo em que só se sopravam balões para as brincadeiras infantis.
Foi bom, mas o melhor estava para vir: a segunda edição, no ano seguinte, onde grupos locais, regionais, nacionais e norte-americanos animaram uma plateia estimada nas 10 mil pessoas que marcaram presença de sexta a domingo, na primeira semana de Agosto de 1977.
A Força Aérea deu uma colaboração inestimável no transporte dos artistas, a organização vendeu umas t-shirts para ajuda na alimentação e os espectadores (vindos de quase todo o arquipélago) assistiram ao “único grande festival de rock realizado este verão em território português” – acabamos de citar o excerto da reportagem assinada por Helena Vaz da Silva no “Expresso”, jornal então dirigido por Pinto Balsemão e com Marcelo Rebelo de Sousa como sub-director.
Acresce que os artistas (Lena D’Água, na altura Lena Martins, era a vocalista dos “Beatnicks”) ficaram instalados no antigo seminário Padre Damião – actual Escola Preparatória da Praia da Vitória -, enquanto os jovens acampavam (muitos deles sem barraca...) no extenso areal da cidade de Nemésio.
A organização, praticamente sem apoios, entrou com 12 contos (o ordenado mínimo, na época, não chegava aos dois mil escudos) e o Festival da Riviera era cartaz nacional e prometia novas façanhas em próximas edições.
Causa soviética e último desejo
Por tudo isso, os artistas começaram a ficar mais exigentes e a Carlos Parreira, e aos seus amigos, não restou alternativa senão bater à porta do Governo Regional, via secretaria da Cultura, a pedir uns apoios para pôr de pé a terceira edição.
Os governantes, contudo, não fizeram a vontade. Alegaram que o Festival era uma porta aberta para a entrada de droga, que a “populaça” deixava a praia num estado lastimável e, já agora, que o rock não era cultura.
A razão da nega, para Carlos Parreira, é bem diferente. A comunicação social local anunciara recentemente que para o festival de 1978 estava segura a participação de um grupo musical soviético, por via de interferência da associação Amizade Portugal/União Soviética.
Como, na altura, os comunistas ainda tinham fama de comer criancinhas ao pequeno-almoço (os pedófilos não eram moda...), o melhor era acabar com o festival, cujo modelo serviu de inspiração ao “Maré de Agosto”, em Santa Maria.
Face a isto, e enquanto há areal na Praia da Vitória, Carlos Parreira já vai sensibilizando as entidades competentes para apoiarem um espectáculo a assinalar o 25º aniversário do primeiro festival.
Parreira acha que seria numa oportunidade “óptima” para um encontro inter-geracional acolhido pela magia da música.
Se tudo correr bem, lá para a primeira semana de Agosto de 2001, a ilha vai viver uma noitada em grande sem que alguém – do pai barrigudo e careca ao filho com brinquinho da orelha e boné de pala virada para trás – se ache no direito de dizer: “está na hora de ir para casa”. Vai uma aposta?
Restaurante deu nome
Riviera foi a designação com que os festivais de música da Praia da Vitória de 76 e 77 ficaram conhecidos para a posteridade.
E Riviera, porquê? Pelo simples facto de nessa duna, totalmente absorvida pela nova doca do porto da Praia, ter funcionado durante 10 anos – década de 60 até princípio da de 70 – um empreendimento comercial de nome... Riviera.
Tudo começou com um bar e esplanada de apoio aos banhistas e avançou para o solar da Riviera (o dono aplicou um estrangeirismo oriundo das costas do sul de França e Itália), casa de madeira com decoração rústica e restaurante para 120 pessoas.
Serões musicais, parque de estacionamento, frango assado de alto paladar deram nome à casa cuja tabuleta Riviera acendia e aquecia as noites do espaço mais “in” da Terceira, onde a elite (os que tinham carro, para simplificar) fazia questão de marcar presença assídua, sobretudo na época de Verão.
Projectava-se novos investimentos – cozinha e sala de jantar com decoração marítima – quando um incêndio, numa ventosa manhã de Abril de 1970, reduziu a vitória do esforço e engenho humano sobre a natureza (o proprietário teve, entre outras coisas, de elevar a cota da superfície do terreno e de arranjar forma de transportar água de um chafariz) a meras cinzas.
Para cúmulo dos azares, o incêndio, que pode ter tido origem num curto circuito ou numa brasa por apagar da lareira, não pode ser atacado de imediato, porque a primeira viatura dos bombeiros capotou, provavelmente por ter o tanque da água demasiado cheio, antes de chegar à Riviera.
Com as atenções também centradas em investimentos comerciais em Angra do Heroísmo e apanhado desprevenido pelas exigências salariais decorrentes da Revolução dos Cravos, o dono da Riviera não quis arriscar mais.
Posteriormente um inglês quis explorar o espaço, mas a burocracia deixou-lhe de mãos atadas. Ontem como hoje...
DIÁRIO INSULAR
Reportagem: Helena Fagundes
Fotografia: António Araújo, Carlos Armando Costa
05 de abril de 2009
Da estância de luxo ao
AS HISTÓRIAS DA RIVIERA
Na década de 60 a Praia da Riviera deixou de ser um local isolado e esquecido para receber a estância balnear que lhe deu o nome. Era o tempo dos concertos e serões com as altas patentes da Base das Lajes. Mais tarde, a Riviera foi palco do primeiro festival de rock do país. Da época de ouro ao “sexo, drogas e rock n’roll”, DI conta-lhe a história toda.
Uma estância de luxo reduzida a cinzas deu o nome à praia que, na década de 70, recebeu o primeiro festival de rock do país: o
Na década de sessenta, a Riviera era um local isolado e inabitado, junto do antigo Paul do Cabo da Praia e do Forte de Santa Catarina. Entre esta praia e a dos Sargentos existia a Blue Beach, uma espécie de areal privado dos norte-americanos, com bar e nadadores salvadores portugueses. Mas foi na praia isolada que, em 1961, Orlandino Mendes viu a oportunidade para o negócio.
Construiu uma estância balnear, com bar, quatro balneários individuais, esplanada com 14 metros por seis e um restaurante com seis metros por 12, lareira e decorado com motivos regionais. No exterior estavam bar-b-cue pits, grelhadores onde se podiam cozinhar petiscos enquanto as ondas rebentavam e o sol brilhava.
A essa estância balnear, Orlandino Mendes deu o nome de “Riviera”. E a estância deu o nome ao areal. Primeiro com os americanos da Base das Lajes que falavam da “Riviera beach”. Depois, toda a população se habituou a chamá-la assim.
Para servir a estância, Orlandino Mendes construiu um parque de automóveis e 40 metros de estrada, ambos alcatroados. Com a ajuda dos americanos da Base e as suas carrinhas pick-up, ergueu o nível da estrada em 80 centímetros. Chegaram ao local, com esforço, água canalizada e electricidade.
A clientela americana, da mais selecta da Base, era a mais frequentadora da estância, por onde também passavam as melhores famílias da ilha. Essa foi a época dourada da Riviera, com salas cheias das mais altas patentes da base militar, comida e bebida "do melhor", que a "Riviera não era uma coisa qualquer".
Cheiro a charutos e o tilintar dos copos...
Era um ambiente muito selecto”, lembra Orlandino Mendes, tantas décadas depois, do outro lado da linha telefónica, em Lisboa. “Servia-se marisco, lagosta, frango assado a carvão”. O frango congelado tinha de ser importado do aviário do Frexial, no Continente. "O ketchup não era de contrabando americano, mas importado numas latas grandes, de Vila Franca de Xira. Tudo ao pormenor”.
Foi o primeiro sítio de Portugal a servir hambúrgueres e hot-dogs. "Em 1968 estive no Algarve, bem como no 'lnvictus', então o único snack-bar de luxo, no Porto. Bem como num 'similar de hotelaria', muito frequentado por açorianos, aqui na baixa de Lisboa, mais precisamente no Rossio. Pois bem - De Norte a Sul, incluindo Lisboa, não encontrei um só estabelecimento a servir este tipo de sanduíches. Mas o Bar da Riviera sim!", conta.
Orlandino Mendes chegou a pedir um hamburger em Lisboa. "Mas o empregado disse-me desconhecer por completo o que isso era. Pedi então um cachorro. E serviram-me então um cachorro. Que de cachorro só tinha a salsicha, porquanto serviram a pobre criatura dentro de um papo-seco”.
Pela estância passavam nomes distintos da sociedade terceirense e açoriana. Esteve lá o escritor Vitorino Nemésio, que estranhou o nome "Riviera”. Afinal estava-se numa ilha, o estabelecimento de Orlandino Mendes dividia o mundo profundamente rural do Cabo da Praia do mar. Mas o dono da estância não concordou. Estava farto de tudo o que era rural. Riviera é um termo usado para designar um local junto ao mar, perto da costa. Existem a Riviera francesa, a italiana. Esta era a Riviera açoriana", volta a responder, anos depois.
A escala da ilha, esta Riviera tinha o luxo da italiana e francesa. No Verão, o areal e a estância enchiam, de Inverno o frio acalmava os ânimos e instalava-se um ambiente de classe. Era a altura do entretenimento. Apostava-se nos concertos. Fizemos noites de fados, com os melhores fadistas da ilha, como Guy Fernandes, Maria dos Anjos e Maria Emília. Também lá tocaram “Os Sombras”, diz Orlandino Mendes. Um dos momentos altos foi quando cantou D. Vicente da Câmara, perante uma sala quase toda preenchida por oficiais. Dez anos depois de abrir a estância, a época dourada da Riviera desfez-se em cinzas. Orlandino Mendes lembra-se "como se fosse hoje”.
Ainda hoje não sei precisamente a causa do incêndio, o que me intrigou durante algum tempo, mas sei que na véspera tinha havido uma reserva, no 'Solar da Riviera' (sala esta totalmente construída em madeira, bem como a sua primeira cozinha), a várias famílias americanas, a qual acabou, como era costume, às tantas da madrugada. No dia seguinte, à tardinha, principiámos a ver um fumozinho, com cinco a 190 cm de altura, a sair pelas fendas do sobrado, muito próximo da lareira”, adianta. "De imediato, eu e o empregado Fernando pegámos numa mangueira de água e, pelo exterior da construção, fizemo-la entrar depois do sobrado, sob o qual existia uma duna".
O fumo desapareceu por essa noite. “Parti para a minha residência, em Angra, tendo alertado o guarda-nocturno para o que se tinha passado. E deixando-o bem prevenido para que me telefonasse e ao mesmo tempo o fizesse para a bombaria, caso presenciasse a saída de mais algum fumo. Este guarda-nocturno tinha o seu horário a partir da uma ou duas da manhã até mais ou menos as sete da manhã, hora que terá saído e nada de anormal me informou. Eis senão quando, se bem me recordo, entre as nove e as nove horas e meia da manhã, fui alertado, em Angra, que seguisse de imediato para a Riviera, que estava a arder", recorda.
Parecia maldição”, pensa em voz alta Orlandino Mendes, quando se lembra que, ao chegar às Tronqueiras, viu o carro de bombeiros da Base americana capota- do, a uma distância muito curta do local do incêndio. O bombeiro português Mário Tanoeiro foi atirado para o hospital da Praia, em perigo de vida.
Meia década depois de as chamas terem reduzido a cinzas a Riviera de Orlandino Mendes, soou o rock. Tudo começou no escuro de uma sala de cinema, em 1969, na Base das Lajes. Quando o grande ecrã se encheu com as imagens “cool” e loucas do filme Woodstock, Carlos Parreira teve um pressentimento. Tinha então pouco mais de 20 anos e os seus ídolos eram Jimmy Hendrix e Joe Cocker. Mas Woodstock não era possível na ilha, pois não?
Em 74 cumpriu serviço militar no Porto. Pouco depois do regresso, numa das conversas de café com aos amigos, surgiu a ideia: Um festival, com música todo
o dia e toda a noite, como no Woodstock. O local seria a praia da Riviera, no Verão. E nascia o
Carlos Armando Costa, outro dos organizadores do festival, lembra que "nada era como hoje em dia”. Carlos Parreira solta uma risada. "Apresentei essa ideia aos meus amigos, ao Carlos Armando, ao Luís Dores, ao Jorge Gabriel, ao Alfredo Goulart, ao Albeche Marques... Mas era difícil organizar um festival. Ninguém sequer pensava em subsídios ou apoios. Conseguimos a colaboração dos americanos e do sr. Oldemiro Cardoso, empreiteiro, que nos cedeu uns andaimes para fazer de torres, para o palco, bem à maneira do Woodstock. A câmara disponibilizou uma máquina para limpar o areal". O palco propriamente disto foi feito com barris de gasóleo vazios e um estrado. "José Luís, um emigrante de São Jorge, a emprestou a aparelhagem de som para o festival”, lembra Carlos Parreira. O resto foi planeado durante longos dias, no terraço de Carlos Armando, então com 20 anos e fã de bandas como Led Zeppelin.
A primeira edição do
Os americanos, como em tudo nessa época, eram uma presença muito forte. "A cultura musical que se vivia na Praia era muito diferente da do resto do país, e isso também nos influenciou. Na altura a Base tinha quatro clubes, abertos pela noite dentro. A Base não dormia. Actuavam lá bandas vindas da Irlanda... Tinha-se acesso a álbuns muito antes de estes chegarem a Lisboa”, recorda Carlos Parreira.
Actuaram várias bandas da Região, como os "Bárbaros”, bem como Zeca Medeiros. Um concerto que ficou na memória de muitos, incluindo Carlos Parreira. Era seis da manhã e o Zeca Medeiros saiu da tenda, subiu ao palco e começou a cantar. Era o pessoal todo a sair das tendas, ensonado, algum ainda meio pedrado da erva que circulava. E a voz dele... Àquelas horas. Foi uma coisa completamente irrepetível”.
Esse foi também o ano em que o festival provou ser capaz de abanar a estrutura de uma sociedade fechada como a da Terceira no pós-25 de Abril. "O sr. Tieres Cunha chegou-me a telefonar a dizer para eu vestir aquela gente. Referia-se aos americanos e às americanas que iam tomar banho nus. Disse-me que não queria que os filhos vissem coisas dessas", conta Carlos Parreira.
A erva, que circulava na ilha com os americanos, também fazia parte das horas do festival, alimentadas a música, copos, sol e mar. "Mas não era nada como aquilo que se vê hoje em dia, com gente para aí a injectar-se pelas ruas. Era erva, simplesmente. E nem se pode dizer que o festival tenha introduzido a erva na ilha, ela já circulava antes”, assegura.
Se a primeira edição do festival foi regional, a segunda deu o salto para o panorama musical nacional. Por vezes as coisas nascem de coincidências, lembra Carlos Armando. “Eu colaborava às vezes com um programa do Rádio Clube de Angra, porque tinha muitos álbuns de música rock. Um dia encontrei lá o marido da Cândida Branca Flor e acabámos por falar do festival. Ele deu-me alguns contactos e ofereceu-se para ajudar".
No pós-25 de Abril, um Movimento das Forças Armadas prestável permitiu que Carlos Armando viajasse num dos aviões da Força Aérea até Lisboa, onde os contactos produziram efeitos. Actuariam, na segunda edição do festival, entre outros grupos, os Beatnicks, a banda que deu a conhecer Lena de Água, e os Tantra.
Em 77 o palco já era melhorado. Viajaram até à ilha jornalistas como Helena Vaz da Silva e Bernardo Brito e Cunha. O festival ganhou projecção na revista ”Músi- ca e Som" e no semanário Expresso. "Foi uma coisa interessantíssima. Os jornalistas estavam muito surpreendidos, não imaginavam nada assim numa ilha como esta. Ficavam também maravilhados com latas de Coca-cola e Fanta de uva, que ainda não existiam no Continente. Guardaram-nas como se fossem artigos de colecção”, ri-se Carlos Parreira.
Mas os anos loucos da Riviera tiveram rapidamente um fim. Numa sociedade conservadora e fechada, o festival de rock era uma pedrada no charco, rotulado como tendo disseminado a droga na ilha e quebrado os “bons costumes”. O rock era conotado com a droga e o sexo.
Nesta terceira edição queríamos ir mais alto. Já estávamos a pensar em trazer os Sex Pistols, da Inglaterra. Na altura já havia a secretaria regional da Cultura, liderada pelo Dr. José Guilherme Reis Leite e pelo dr. Jorge Forjaz. Pedimos apoio. Um dia liga-nos o presidente da Câmara da Praia a dizer que temos de ir a Angra, para uma reunião com o secretário regional da Cultura. Ficámos logo animados. Mas chegámos lá apenas para ouvir que o festival não tinha interesse nenhum, nem turístico, nem cultural”, diz, pesadamente, Carlos Parreira, abanando a cabeça. "A viagem de volta foi triste”.
As pessoas estavam habituadas a chás dançantes, a música clássica... O
Max e o músico Luís Bettencourt, que viveram o festival, levaram depois as sementes da ideia para Santa Maria, onde criaram o Maré de Agosto. Hoje, mesmo depois da gestão da Riviera ter passado para as mãos de Câmara Municipal, os dois colegas que, aos 20 e poucos anos, iniciaram O
Para trás ficam os episódios curiosos, o espanto dos jornalistas do Continente perante o Woodstock açoriano, os dias e noites de música, corpos jovens e nus arremessados contra as ondas mornas de Verão, a miragem dos Sex Pistols. O que mais guardam os dois amigos, do festival da sua juventude? Carlos Arman- do responde. “Sobretudo, mostrámos que era possível fazer algo assim na Terceira, numa sociedade tão fechada. Antes, toda a gente achava que aquilo era algo que nunca poderia existir na ilha. Quebrámos a barreira do impossível”.
DIÁRIO INSULAR
Opinião: Fernanda Ávila
26 de maio de 2009
Riviera, também estive lá
Na revista do Diário Insular do dia 5 deste mês, vem uma reportagem que nos conta um pouco do que foi a Praia da Riviera há uns anos atrás.
Nesta edição, falou-se da Riviera, mas esta excelente revista tem-nos dado a conhecer aspectos da ilha Terceira deveras interessantes.
Esta revista que saiu pela primeira no dia 13 de Abril de 2003, aos poucos tem vindo a mostrar-nos coisas que a maioria das pessoas desconhece. Com temas variados, o Diário Insular, ao lançar esta revista, prestou-nos um precioso serviço, trazendo ao nosso conhecimento informação que de outra maneira não teríamos acesso. Posto isso, agora que esta revista, que sai aos Domingos, está a fazer 6 anos de vida, o Diário Insular está de parabéns. Ainda me lembro como se fosse hoje, do primeiro Festival de música, que se realizou em 76 na Praia da Riviera e, fazendo minhas as palavras do Carlos Costa, um dos organizadores deste famoso festival, “nesse tempo nada era como hoje em dia”. Na verdade, esses eram outros tempos e também outras pessoas, era o tempo em que se faziam as coisas por amor à camisola.
Por vários motivos, a Praia da Riviera deixou “marcas” naqueles que hoje estão na casa dos quarenta, cinquenta anos. Este foi, sem dúvida, um lugar “mágico”, em especial para todos que tinham um espírito mais “aventureiro” e que viviam para os lados da Praia da Vitória. Tanto no primeiro, como no segundo festival, as coisas foram organizadas e vividas com grande desprendimento, mas tudo foi feito com “pés e cabeça”, daí o sucesso que estes dias de música trouxeram a esta ilha e não só. A Praia da Vitória, desde sempre, foi um lugar virado para a música e ali nasceram famílias inteiras com aptidão para esta arte. Os que ali moravam e tinham acesso a base iam lá e vinham cá para fora com ideias novas que depois punham em prática, todos sabemos que quem morou na até então vila da Praia sofreu muitas influências das vivências americanas. Ao falar em música, não podemos esquecer que ainda antes dos festivais da Riviera já haviam os bailes nas muitas esplanadas que existiam por aquelas bandas e penso que, embora noutro contexto, qualquer destes acontecimentos contribuíram para que a Praia da Vitória ficasse para sempre com uma grande ligação à música.
Por mim, assisti a isto tudo de perto, primeiro através os meus irmãos mais velhos, que iam aos bailes onde os “Sombras” e os “Bárbaros” tocavam, e até me lembro de ouvir dizer que existia uma certa “rivalidade” entre estes dois grupos. Mais tarde tive a sorte de assistir ao vivo aos dois festivais na Praia da Riviera e tenho a certeza que quem lá esteve nunca esqueceu o que foram aqueles dias. Agora, embora já tenham passado mais de trinta anos sobre os acontecimentos da Praia da Riviera, a entrevista dada ao Diário Insular pelo Carlos Parreira e Carlos Costa veio avivar a memória dos que lá estiveram. Avivou-nos a memória e, ao mesmo tempo, veio mostrar aos mais novos que os “cotas” daquele tempo, sem as modernices de hoje, também se divertiam.
Usavam a imaginação para passar o tempo sem precisar recorrer a coisas tolas e “perigosas” que, infelizmente, abundam neste “nosso” mundo de hoje dito desenvolvido. Actualmente, a Praia da Riviera é uma “sombra” do que foi entre os anos 60 e 80. Presentemente os que têm a mesma idade que tinham os que contribuíram para que Praia da Riviera marcasse uma época estão “noutra onda”.
É como diz o padre Caetano Tomás: “esta, é outra gente”. A ideia com que ficamos é que “esta gente” tem ao seu alcance tudo para ter uma vida melhor do que no “nosso tempo”, mas, ao olharmos à nossa volta, não é isso que se vê, vê-se sim gente insatisfeita sem saberem “para que banda hão de cair”, o que quer dizer que alguma coisa está mal, mas esta é uma outra história que “dava pano pa mangas”. Olhando para trás, sinto que tive muita sorte em ter podido estar ali bem “colada” ao palco na Praia da Riviera e sinto-me mesmo privilegiada por ter feito parte das cerca de oito mil pessoas assistiram ao primeiro festival de música rock do nosso país.
ARANHA
ATLANTYS
BANDA CAIRO
BÁRBAROS
BEATNICKS
CARLOS MEDEIROS
DUO LICÍNIO E MORENO
MINI-BÁRBAROS
PARALELO 4
PEACE ON THE ROCK
RED BOX
RED SUN
Banda de Lisboa, cujo nome deriva de um grupo que deu o nome a um clube que existia em Odivelas.
Os músicos de uma das formações dos ARANHA eram: Luís Firmino (Guitarra), Aristides (Bateria), Armindo (Cantor), José Nuno (Viola-Baixo) e o Fernando Vidrinhos (pianista).
Banda de Rock norte-americana, formada por músicos de origem açoriana residentes em Fall River, Massachusetts.
Banda de rock de Lisboa, da qual faziam parte Vítor Mamede e Moniz Pereira.
Por motivos alheios à organização, a banda acabou por não actuar.
Os Bárbaros foram uma das bandas que permanecerá na memória musical praiense e terceirense, depois de vários anos a animarem a Base das Lajes, clubes da Praia, assim como festas da ilha e dos Açores. Passaram pelo grupo, que deixou de atuar no final da década de 70, perto de 30 elementos. A inconstância dos seus elementos deveu-se maioritariamente à emigração de músicos e ao serviço militar.
Em abril de 2011, Os Bárbaros voltaram a reunir-se para um concerto no âmbito de um convívio praiense na Nova Inglaterra, que decorreu em Providence, Rhode Island, e que serviu de ensaio-geral para a atuação na Praia, durante as festas concelhias daquele ano.
Os Beatnicks, um dos grupos importantes do Pop/Rock nacional, passaram pelas décadas de 60, 70 e 80.
Com diferentes formações e diferentes estilos de música, os Beatnicks começaram em 1965 como um projecto incipiente.
A sua primeira formação incluía João Ribeiro e Manuel Paulo, que apenas efectuaram alguns espectáculos, sem grande capacidade de surpreender.
A segunda fase dos Beatnicks começa em 1971, com Ribeiro, Rui Pipas (precocemente falecido num acidente de viação), Mário Ceia (que, mais tarde pertenceria a uma formação dos Hosanna) e José Diogo.
O grupo elege o inglês como língua das suas canções. Tocam no Festival de Vilar de Mouros e em Vigo (Espanha). Gravam um EP que contém "Cristina Goes To Town" (tema incluído na colectânea editada em CD " Biografia do Pop/Rock"), que é complementado com " Little School Baby" e "Sing it Along". Nesta fase chamavam-se Beatniks.
Em 1972 editam o single “Money”, com o lado B a ser ocupado por “Back In Town”, na mesma linha Hard Rock.
Nesta fase, o grupo está próximo de uma corrente Hard Rock. Há quem diga que poderiam ser os Black Sabath portugueses.
Ramiro Martins (que tinha entrado no grupo algum tempo antes em substituição de Pipas) reforma o grupo (que esteve parado por problemas relacionados com o serviço militar), já depois do 25 de Abril. Entram Jorge Casanova, Tó Leal e uma jovem actriz, filha do futebolista José Águas. Esta última era Helena Águas (mais tarde conhecida por Lena D'Água). O grupo tinha 2 vocalistas e actuava, sobretudo, em Festas de Finalistas, com incidência no distrito de Castelo Branco.
A partir de 1976 a banda envereda por um estilo "progressivo", muito próximo de uns Yes, Genesis, ou, em Portugal, Tantra.
Jorge Casanova começa a compor temas como "Cosmonicação" ou "Somos o Mar" e os espectáculos do grupo incluem projecção de slides e fumos carbónicos, uma novidade total em Portugal, só vista no concerto que os Genesis deram em 1975, no Pavilhão de Cascais.
A banda actua em vários festivais ao lado de Tantra, Hosanna, Psico, Arte & Ofício e Waveband. Este último grupo constituído por músicos alemães que se radicam em Portugal, tem a participação de um membro dos Beatnicks como músico convidado. Foram inúmeros os espectáculos que os dois grupos fizeram em conjunto.
Os Beatnicks gravam um single com "Somos o Mar" e "Jardim Terra", em 1978 durante a fase "progressiva", mas sem Lena D’Água, que tinha já abandonado a banda. Ramiro lança-se num projecto efémero chamado Doyo (que inclui quase todos os membros dos Beatnicks com pseudónimos como Jedo ou Doio Kaosos), e grava e edita um dos piores discos (um LP intitulado “A Quem Doer”) da fase do "boom" do Rock português, em 1981.
Os Beatnicks, com Ramiro, ainda regressarão para gravar um single “Blue Jeans”/ "Magia", precisamente na avalanche de bandas de Rock dos anos 80, com o qual não conseguirão nenhum sucesso (o qual não trazia nada de novo em relação a outras bandas). A banda ainda editará o LP “Aspectos Humanos”, na linha do single anterior, no qual se nota a decadência da banda. Completamente desactualizados e com o público interessado em Rui Veloso, GNR e UHF, os Beatnicks acabam por morrer de morte natural.
Ramiro faleceu há mais de 10 anos.
Em 2009, a companhia discográfica Portuguese Progressive Pearls edita um LP em vinil intitulado “Heavy Freaks Are Back In Town”, com todos os temas que os Beatnicks editaram em single e EP, excepto “Blue Jeans”/”Magia”.
Carlos Medeiros fez parte de um movimento particular da música açoriana durante os anos 80 e 90, fazendo parte de grupos como os Toques, Cantinho da Terceira ou a Balada do Atlântico. Posteriormente foi colaborador do grupo de Coimbra Brigada Victor Jara. O músico terceirense tornou-se uma figura de culto no circuito da música tradicional portuguesa devido sobretudo aos dois trabalhos que editou em nome próprio: o single “Dança das Fitas” (2000) e o deslumbrante “O Cantar Na M'Incomoda” (1998), ambos produzidos por Luís Gil Bettencourt.
Mais recentemente colaborou com o projecto de recriação da música tradicional dos Açores, O Experimentar Na M'Incomoda, e é metade do duo Medeiros/Lucas que editou o disco Mar Aberto em 2015. Outra expressão do fôlego musical de Carlos Medeiros encontra-se no Trio Fragata, o trio de músicos da ilha Terceira que co-fundou e em que explora linguagens ligadas à música electro-acústica improvisada.
Duo de jovens intérpretes de música portuguesa. Formado em Lisboa por Licínio (voz e violão) e por Moreno (voz e violão).
Banda de jovens da ilha Terceira que seguiam os seus ídolos: os Bárbaros.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de rock da ilha Terceira composta por Duarte Dores – Teclas, Eduardo Ornelas – Guitarra, Jorge Azevedo – Baixo, Paulo Contente – Guitarra e Paulo Borba – Bateria.
Banda de Country na qual actuava João Botelho, o único português desta formação.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda dos Açores.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
Banda de Rock de São Miguel.
Clique Aqui, caso tenha informações sobre esta banda para nos fornecer.
AÚDIO
Aranha - O Grande Humilde
Beatnicks - Somos o Mar
Bárbaros - Show me the Way
Bárbaros - With a Little Help From my Friends
Phoenix - Rocking Racoon
Phoenix - Blues
Banda Desconhecida - I Can See Clearly Now
Blackstones - Improviso
Pedras Negras - Morning Sky
Banda Desconhecida - I Do Have Nothing
Bárbaros - Proud Mary
Bárbaros - Do It Anyway
José Berto - Piano Medley
Nota:
Os temas acima não foram gravados ao vivo durante o Festival Musical Açores 1977.
O tema “O grande Humilde” da Banda “Aranha” foi composto posterior à edição de 1977 em jeito de homenagem.
Clique aqui caso tenha conhecimento de gravações áudio desta edição.
DIÁRIO INSULAR
EXPRESSO
TELE SEMANA
MÚSICA&SOM
A UNIÃO
DIÁRIO INSULAR
DIÁRIO INSULAR
DIÁRIO INSULAR
Notícia
13 de agosto de 1977
EXPRESSO
Reportagem: Helena Vaz da Silva
Fotografia: Mais informação
24 de setembro de 1977
Música
Açores 77: Diário Rockambolesco de um Festival
Durante dois dias milhares de jovens assistiram ao único grande Festival de Rock realizado neste Verão em território português. Sem apoios oficiais, improvisado e realizado em íntima confraternização entre americanos e portugueses, o
Numa bela manhã de nevoeiro, num avião da Força Aérea. Os músicos, comecei a detectá-los à distância, embora não conhecesse nenhum. Espalhavam-se pela sala, todos de jeans, com um certo ar de família. A um canto, isolados, dois mais circunspectos e mais arranjadinhos. Parecem um duo qualquer coisa, pensei. E eram. Mas lá iremos.
Panorâmica
Chegámos à Terceira cerca das quatro horas locais. A primeira coisa que vi do ar foi, em enormes letras, por cima de um telhado, US AIR FORCE. Essa primeira impressão não seria desmentida, antes reforçada, ao longo da estadia na ilha. À saída da praia, “cops” americanos, iguaizinhos aos dos filmes, encostados à amurada. Pelos campos acima, mais “cops”, a tantos metros de distância uns dos outros, guardando – assim nos explicaram – o que aquelas verdejantes colinas escondem: armamento americano que jaz em vastíssimos subterrâneos. Pelas ruas, pelas estradas, paradas às portas, carrinhas da polícia e da força aérea americana, ambulâncias americanas com aquele apito ondulante que também conhecemos do cinema. À noite, ao passarmos pelas janelas abertas, quase só televisão americana a cores. Nas telefonias dos carros que nos transportavam, o noticiário era americano, os “hits” eram americanos. O lixo pelas estradas eram latas de Coke, Seven Up, Schilitz “when it’s right you know it...” e de mil outras marcas, para nós excitantes e provocadoramente desconhecidas. Os whiskies custavam 15,00.
Por outro lado, a curiosidade, o ambiente da Vila da Praia – onde nos radicámos, pois o Festival ia passar-se ali, no vasto areal da Riviera – era o do Algarve de antes da primeira urbanização turística: fatos de banho inteiros nas senhoras, bebidas mornas nos cafés, moscas.
Noite de preparativos do Festival. Desde o fim da tarde, uma ininterrupta fila indiana, toda de saco às costas, em direcção à praia. Na noite sem lua, fogueiras vão-se acendendo, marcando a presença dos que, dedilhando aqui e ali uma viola, esperam pelo dia seguinte.
Na manhã do grande dia, praia, enquanto se espera pela noite. Ao longe, umas pirâmides humanas, respectivos gritos, gargalhadas, palmadas transportam-me à praia da Cruz Quebrada dos meus treze anos. Ah! machos portugueses! Depois, provas de força, flexões, quem aguenta mais. Aguentou o Quim Zé, até às meias finais, mas empalmou-o na vitória um jovem free-lance que, se antes era olhado com desconfiança pela malta, logo passo a ídolo incontestado. Assim passámos a vê-lo, pelas ruas da vila, liderando um pequeno grupo, em permanente ar de expedição sempre dirigida a um único objectivo: a Base.
A Base, fica-se a saber, com uns dias de Terceira, é um conceito com o seu quê de kafkiano que povoa os sonhos da população que habita as suas faldas. Nem toda a gente entra na Base. É preciso ter lá família ou ter relações com um oficial americano, ou ter um sargento amigalhaço que renove automaticamente os “livre trânsito”. Na Base – que tem uma parte portuguesa e uma parte americana – tanto quanto pude apreciar, não há outros motivos de atracção que não sejam os diversos barracões onde se bebe barato e se jogam jogos americanos, entre os da mesma classe (há o clube dos sargentos portugueses, há o clube dos sargentos americanos – que podem visitar-se entre si -, há o clube dos oficiais portugueses e há o clube dos oficiais americanos.
O comportamento de cada estranho que entra na Base é seguido com atenção e atribui-se-lhe uma pontuação (negativa) cada vez que ele infringe as regras. Uma pessoa que atinja X pontos não entra mais na Base.
Ao almoço desse dia, mais uns que na véspera. São os “americanos”, murmuram-se. Quais quê, são uns açorianos de São Miguel que vivem na América e agora fingem que não sabem falar português. Olhares desconfiados.
Além de umas rosnadelas muito portuguesas contra “americas” e muito terceirenses contra os miguelenses, umas e outras condensadas em repetidos brindes de “Viva Portugal”, chegavam-me, sobrepostos, farrapos de conversas: “o melhor grupo de rock português é o Tantra, tás a brincar, o Arte e Ofício, ah esse sim, dos presentes nem se fala, se não... nós estivemos para não vir porque soube que houve uns fulanos que fizeram tudo para vir só eles... E o melhor americano? os Kiss. E o melhor inglês? os Rolling Stones e os Crimson, o Crimson acabou...
Das rivalidades ali esboçadas havia de haver mais sinais ao longo dos dias.
A Terceira orgulha-se da sua tradição liberal que se traduz não apenas no resultados eleitorais, mas nas mentalidades das pessoas. Tirando as lagoas – que não se lhes podem negar porque estão à vista – os terceirenses não reconhecem aos miguelenses qualquer virtude. Em Angra, entrámos numa tabacaria para comprar cigarros, inocentemente, pedimos uma marca sem filtro que tínhamos visto na véspera. Resposta gelada: “isso é tabaco de S. Miguel, não se vende aqui”.
Noite de sábado, e primeira do Festival. Marcado para começar às oito, só tivemos música à meia-noite. Faltava aparelhagem e faltava energia. O problema da energia eléctrica sente-se aliás, muito na ilha. Falta diariamente, disseram-nos no café: “a electricidade cá é como o contrabando, às vezes falta”. Entretanto, chuviscou, depois choveu francamente. A mancha enorme de público que, às dez da noite era compacta, começou a ficar rala. Ao microfone, mestre Parreira, exortava: “não deixaremos que a chuva vença o nosso Festiva”. Mestre Parreira, o incansável Mestre Parreira que, ao aquecer ___ com mais um verdelho _____ “its paid by the cow”______encido o avô a vender para aguentar o prejuízo ______ al).
Planos Aproximados
Os Beatnicks existem há dois anos. Os "cordas" (Jorge Casanova, solo e Ramiro, viola baixo) ia tinham tocado juntos no teatro, o Ramiro tocou com o Nice numa primeira formação dos Beatnicks. Conhecem-se todos desde miúdos e moram todos, mais ou menos, na Amadora. A Lena (voz), que é filha do Águas, "imitava a Melanie Safka no jardim". o Tó (voz) cantava pela rua com a sua grande pedrada", o Jorge e o Ramiro "tocavam juntos no Liceu". luntou-se-lhes o Fernando (teclas) e o Araújo (bateria). O Pedro assegura o som, o Pneu as luzes. o Quim Zé “fala" (e a verdade é que a falar, a falar, já quase assegurou uma “tournée" pelos Estados Unidos em 78...), o Júlio faz o que os outros não fazem.
Dos Aranha. fiquei a saber um pouco nessa noite e algo mais ao longo das refeições do Armandinho (onde a espera era o prato forte). O nome vem de um grupo que deu o nome a um clube que ainda existe em Odivelas e que tem 200 sócios, mas nenhum deles pertenceu a essa primeira formação. São todos de Lisboa, um da Alcântara, outro da Estefânia, e por aí fora mas ensaiam numa cave em Odivelas. Estão juntos há uns três meses, mas cada um tinha tocado por seu lado. O Luís (viola solo) começou por tocar com colheres nos copos até que teve uma viola e lá foi tocar para o Estoril Sol. "Eu só sabia a primeira, segunda, mas havia um velhinho que puxava por mim e eu Iá ia atrás". Teve vários grupos, entre os quais o Anangaranga ("é um gravador, o grupo, mas não toca musica original") e ultimamente tocou com o Rão, com quem aprendeu muito, mesmo sobre a maneira de estar no palco.
O Rão tem sempre uma bolsinha com sal e a maneira como ele engole o sal em frente do público é já uma parte do espectáculo".
Ouvem muito jazz contemporâneo e, claro, os Yes, os Genesis. E o Frank Zappa. Mas o Zappa é heavy rock, é por aí que vocês vão? "A gente recusa o rock pesado porque é primitivo" diz o Zé Nuno. "Não estou de acordo" diz o Domingos que é parecido com o Frank Zappa. "Um rock com menos força e com mais cabeça é o rock do futuro" acha o Rabanal. Então? Veremos nos próximos meses para que lado caem.
E assim pela noite fora. Caem uns chuviscos. O trabalho continua com afã. Uma alma boa traz um verde Lagosta que circula de boca em boca.
Travelling para a frente e para trás Mas o Festival não foi só música nem foi só na praia. Foi pela ilha toda, de noite e de dia.
Pelas estradas, que parecem subir mais do que descer e que tem dum lado e doutro muros que julgamos de pedra, como os outros, e afinal, se a gente olha mais, são de hortenses secas; pelas aldeias salpicadas de "impérios" – uns oratórios, espécie de igrejas de bonecas, mistura de mesquita e de palácio de contos de fadas; pelas piscinas naturais, que enchem e vazam com a maré e onde há espaço para toda a gente: pela tasca de S. Mateus onde descobri as caracas [sic], o marisco originário, certamente o primeiro de todos: e também pela música inesquecível de certos nomes: Biscoitos, por exemplo. lr a Biscoitos... só isso Depois, claro. havia. como não podia deixar de ser, a Tourada e o Fado. Também fui. A tourada à açoriana é "à corda". E uma espécie de "santos populares" todo o ano. É financiado pela gente da freguesia e há sábados em que há mais que uma. De meia em meia hora sai um boi. com uma corda ao pescoço. agarrada por uns quatro homens. O boi corre pela estrada, entre os muros onde a maralha se empoleira, toda vestida de festa, e aos gritos de desafio. Cada vez que o boi se aproxima foge tudo e ele marra nas pedras. Cada vez que o boi desembesta e vai mesmo marrar a sério, os homens puxam a corda, o boi tropeça, às vezes cai, com um som seco e sinistro. É uma festa selvagem: uma espécie de paródia da coragem, porque um dos parceiros não tem hipóteses e os outros sabem disso. Também vi umas ruínas, no alto dum monte, ruínas não habituais porque não são de nenhum castelo nem mosteiro, não são tão antigas como as ruínas costumam ser. São ruínas do tempo da última guerra, era a estação de rádio que pertencia ao exército. Hoje é um espaço oco e desventrado, com os cabos arrancados, mas ainda com os sítios à vista, que permitem as palavras desse tempo ecoar: "forças aliadas... avanço... recuo...". Hoje é refúgio de jovens e namorados, como se depreende pelos grafitti nas paredes: “Barbara and John were here”. Woaw... ou "Leon Russel did not sing here". Assinado: "Leo Russel". Diz-se que vai ser recuperado para centro de produção da RTP.
É isto a História.
Flashback
A história deste Festival é, aliás, curiosa. Um grupo de rapazes, alguns ligados à rádio e todos furiosos do rock, decidiu no ano passado, organizar um festival. Pensavam eles, ingénuos, que a sua iniciativa encontraria eco junto das autoridades que nela veriam uma oportunidade de promoção turística e cultural para a Terceira. Grave erro, o dos rapazes. A autoridade do turismo local “não tinha verba”. O festival de 76, apesar de tudo fez-se, com a presença de sete mil pessoas. Este ano, decidiram repetir, já com uma dimensão maior, convidando grupos do continente e os que fosse possível do estrangeiro. Sabem o que aconteceu? O Turismo deu 5 contos a custo e foi o comércio local que deu cerca de vinte mil escudos. A câmara ajudou com material e transportes, os americanos forneceram camas para a malta. O avô do Parreira e os bolsos deles cobriram o resto. O Festival foi ao ar livre, sem entradas pagas. Até quando teremos que aturar comissões de turismo que só servem para apoiar o que não interessa nem ao menino Jesus?
Planos de Conjunto
A primeira noite, por causa do atraso, por causa da chuva, por causa de desaguisados internos (um grupo convidado. – o Cairo, de que faziam parte Vítor Mamede e Moniz Pereira – acabaria por não tocar no Festival) decorreu um pouco íria. Suportou-se o que começou por me parecer um número cómico mas depois descobri que não era (um Carlos Medeiros clamando pela Gisela), a seguir o duo Licínio & Moreno (que não foi surpresa para mim porque os ouvi ensaiar no quarto ao lado do meu desde que puseram um pé em terra açoriana até que o puseram no palco, posso afiançar sem receio de desmentido que não
dormiram). Esses, foi de tudo, desde fados a canções folclóricas, a baladas, e como não podia deixar de ser, uma composição especial para a ocasião sobre os Açores, suas praias e belezas. Embora o que eles cantam esteja deslocado num festival deste tipo (quer pelas condições sonoras, quer pelo enquadramento dos outros grupos participantes), tiveram por parte do público, uma aceitação surpreendente.
O rock chegou com os Beatnicks que deram um espectáculo equilibrado que tenta apelar aos ouvidos, aos olhos e ao resto, incipiente, mas no bom caminho. No fundo, é todo o problema de ser-se rocker em Portugal. Não há as condições mínimas para um grupo passar da fase de amador que promete à de profissional a sério. Como dizia o Carlos, dos Aranha, "social e musicalmente somos um grupo de gajos oprimidos, sem condições nem facilidades. Isso reflecte-se necessariamente no que tocamos". E no que não tocam, evidentemente. “Nos concertos que demos, os carregadores ganhavam mais do que nós. Cada um deles recebia 300$00 e nós, deu 280$00 a cada um", disse um Aranha. “Eu até fui a um concerto em que tive que pagar" disse o Domingos.
E a SEC? Estará ainda na fase de pensar que rock não é cultura? Atrevo-me a sugerir a senhora dona SEC que se meta um dia, como eu me meti, numa excursão com toda esta malta do rock – do “roque" – que viva uns dias com eles (saberá que a idade média é 22 anos) e depois me venha dizer, se for capaz, que aquilo não é cultura. É cultura, e é uma cultura que não se pode ignorar. Mas que se pode, isso sim, apoiar, canalizar, ajudar a revelar.
O segundo dia de Festival, iniciado com um grupo americano que parecia trazido dos anos cinquenta para ali e que agarrou logo o público em dois tempos (os Peace on the Rock, privativos da Base), foi aquecido pela primeira actuação dos Atlantys – os tais "americas" com costela miguelense – que provou que uma boa dose de “metier" pode disfarçar uma qualidade musical medíocre. Como diria o Rabanal, "os Atlantys, musicalidade... bzz...” Mas entraram com "hits" dos Queen, dos Kiss, apalparam o público. deram-lhe o que ele pedia. Marc Dennis, o leader, sabe-a toda. "Saiu dos Açores descalço" segundo me disse alguém. Hoje, com 26 anos, é dono de uma etiqueta onde acabou de gravar um LP e é professor de ciências sociais. É também o dono do grupo, é ele que os contrata e lhes paga. O grupo, tal como está, actua junto há um ano. Toca todos os fins de semana em bailes de teenagers. Marc Dennis só escreve e canta em inglês e quer libertar-se “disso de ser português ou açoriano" mas diz que a música dele é, apesar de tudo, diferente da dos outros americanos porque “tem um certo sabor a tristeza, a saudade". Marc Dennis – que colou na porta do cubículo onde se refugiou, longe da camarata do seu grupo, um papel onde (mal) de podia ler "Marc Dennis, do not disturb" – é um caso: no princípio das conversas não fala português e, no fim, com o aquecimento, fala-o correntemente. Mas todo o espectáculo foi de americanos para americanos. Eles eram, aliás, parte importante e participante do público, com os seus bonés muito “college”, o seu ar de quem se encontrava em terreno ocupado mas fazia o possível por não o dar demasiado a entender.
“Folks, isn’t America the superpower?” foi o grito que várias vezes atroou os ares da açorianíssima praia. “Yaaaa...” Mas porquê falar para americanos se o festival era em Portugal e havia mais portugueses no público, perguntámos nós ao Mark. “Os portugueses aqui... eu notei que se os americanos vão para baixo, eles vão para baixo, se os americanos vão para cima eles vão para cima”...
Os Atlantys cumpriram, parece-me, o que o público esperava deles: barulho (rock n’roll mesmo), fogo de vista (bombas no palco que até mandaram o John para o hospital) e algum swing.
TELESEMANA
Reportagem: Mais Informação
Fotografia: Mais informação
Data: Mais informação
Discorrendo...
Música nos Açores
Esta secção de Tele Semana informa semanalmente os leitores sobre os acontecimentos musicais do país e do estrangeiro. Discos, concertos ou simples efemérides do mundo da música têm aqui o seu lugar reservado regularmente. No entanto. é notória e infelizmente crónica a falta de informação sobre acontecimentos musicais portugueses, não porque esse seja o nosso objectivo deliberado, mas porque a música neste país continua a ser uma actividade bastarda entre as manifestações culturais.
Hoje porém, é com a maior satisfação que damos notícia de dois importantes concertos realizados nos dias 13 e 14 de Agosto numa das ilhas açorianas, Terceira. Tratou-se de um Festival de música rock (a organização chamou-lhe
Se bem que o motivo principal desta reportagem seja a música que ouvimos na Terceira, não posso deixar de referir, ainda que resumidamente, os preparativos e o ambiente criados a volta desta realização ímpar pela extraordinária surpresa que nos causou a força de vontade e o entusiasmo sem limites de um grupo de jovens terceirenses, a quem tudo se ficou a dever. O Musical-Açores deste ano foi já a segunda edição deste acontecimento, se bem que a primeira, realizada em Agosto de 1976, tivesse tido uma divulgação mínima nos meios de comunicação do Continente. Só a força indomável dos “magníficos” da terceira, que não se pouparam a trabalhos e a despesas de toda a ordem, fizeram que o Festival deste ano fosse uma realidade e uma certeza para anos futuros. Uma das louváveis iniciativas da organização foi a de solicitar a colaboração da Força Aérea Portuguesa, que prontamente se prestou a transportar, no seu “DC-6”, as várias dezenas de elementos convidados: músicos, técnicos e jornalistas.
Graças a esta facilidade, foi possível ouvir nos Açores a música dos Aranha, dos Beatnicks e do duo Licínio e Moreno, todos do Continente, além de se ter assegurado uma ampla cobertura jornalística do acontecimento com a presença de vários convidados da Impresa, Rádio e TV (Rádiodifusão, RTP, “Expresso”, “Música e Som”, Rádio Clube de Angra e nós próprios, entre outros). Divididos em dois grupos, os convidados chegaram ao aeroporto das Lajes com três dias de intervalo. Na aerogare, uma eficiente caravana automóvel aguardava as várias dezenas de convidados para seguidamente os conduzir ao antigo seminário de padres holandeses (abandonado há anos), situado numa colina sobranceira à Praia da Vitória, e onde todos ficámos (bem) instalados. Escusado será dizer que durante os cerca de dozes dias de estada na Terceira, o seminário foi um autêntico quartel-general da organização e um ruidoso estúdio musical improvisado com os grupos a afinar as teclas e as cordas (vocais incluídas) até às tantas da matina.
Sábado, 13, 4 horas da tarde: refastelados pelo farto almoço no “Armandinho” e “regados” pelas mil e uma garradas de “verde” com que o Quim Zé dos Beatnicks decidiu festejar os anos da filha, músicos, jornalistas e membros da organização rumam para o local do Festiva, uma praia (chamada de Riviera) situada na ponta da baía da Praia da Vitória, para dar o último retoque no enorme palco de madeira e ultimar os pormenores técnicos da iluminação e do som. Infelizmente, e apesar dos esforços de todos, a chuva (sempre presente nos Açores apesar dos 30 e tal graus à sombra) causou um curto-circuito numa consolette e retardou o início do Festival para cerca da meia-noite. Este incidente viria a provocar constantes protestos dos cerca de dez mil espectadores presentes no local e a motivar uma certa desmobilização no seio dos menos entusiastas. Entre os presentes contavam-se muitas centenas de jovens americanos em serviço na base das Lajes (a uma es ___ metros), acompanhados das primas, dos irmãos e das girl-friends que ali se deslocam habitualmente em tempo de férias, e que emprestaram à assistência uma nota cosmopolita e heterogénea, pouco habitual nos festivais portugueses.
Finalmente, depois de morosos acertos no som, surgiu no palco o Carlos Medeiros, seguido do grupo local Paralelo 4, que não lograram, apesar dos esforços, dar coesão ao esfrangalhado público, repartido pelos quiosques das redondezas, em busca de uma cerveja fresca que os compensasse da impaciência. O grupo seguinte foi o duo lisboeta Licínio e Moreno, dois jovens intérpretes de musica em português, que se acompanharam com duas guitarras acústicas. A sua presença no palco foi também prejudicada pelas circunstâncias atrás referidas; a música, se bem que original e muito bem interpretada, não beneficiou da desejável amplificação num festival com estas proporções. Daí a impressão, manifestada pelo Licínio no final da sua actuação, “de ter estado a actuar para o boneco”.
Os grupos que se seguiram, Aranha e Beatnicks, respectivamente, interpretando cada um mais de uma hora de música, trouxeram finalmente ao concerto (gratuito, note-se) o calor e o entusiasmo que tardava. Os Aranha, grupo que só há três meses estabilizou a sua actual formação, deu ao público uma música integralmente original e reveladora de um trabalho muito cuidado. O solista Luís Firmino arrebatou, merecidos aplausos pela extraordinária interpretação de algumas escalas complexas e logrou conseguir brilhantes diálogos com o baterista Rabanal, numa sincronia que nos parece louvável entre um grupo de músicos de tão recente formação. Menos apurado mas por vezes brilhante, o teclista Carlos Antunes assim como o viola-baixo (Zé Nuno) completaram “o quadro instrumental de um grupo que se aventura pelos caminhos difíceis do rock-jazz com louvável segurança e determinação. Quanto ao Domingos Melo, autor e intérprete de todas as vocalizações, salientamos sem receio de exagerar o virtuosismo da sua voz, potente e bem encaixada nos instrumentos, chegando por vezes a recordar-nos alguns bons momentos na companhia do senhor Frank Zappa (pro diabo com os patriarcas da crítica rock a quem isto poderá parecer uma blasfémia).
Depois dos Aranha, foi a vez dos Beatnicks, grupo “luxuoso” que fez deslocar aos Açores doze pessoas (seis músicos). O seu espectáculo pode dividir-se em duas partes: a primeira, interpretando peças de outros grupos (Allman Brothers, etc.); a segunda, inteiramente preenchida com a “Cosmunicação”, música original com cerca de 45 minutos. Os Beatnicks impuseram à assistência (continentais, açorianos e americanos) um longo e elaborado trabalho de estúdio, enriquecido por uma completa projecção de slides e de light-show (um
louvor ao Luís “Pneu”, técnico incansável das luzes, e ao Pedro Sousa, que conseguiu evitar que o som fosse por vezes um desastre), Fiéis a uma linha melódica característica das grandes bandas de rock, eles pintaram no amplo palco deste
O Festival prosseguiria, agora com grupos menores, de que destacamos os deliciosos Red Sun, que só não são punks porque nasceram (e vivem) em São Miguel, mas que exalaram um qualquer cheiro a metal kids, pois então. Às tantas
da madrugada o primeiro dia do
O segundo dia foi, de uma maneira geral, inferior ao primeiro, mesmo para os Aranha e os Beatnicks. Os Atlantys foram, pelas razões apontadas, os senhores da noite, chegando a actuar uma segunda vez já por volta das 7 horas da manhã. Não é difícil adivinhar que a audiência dessa hora era muito estável: sensivelmente 90% de vasilhame... Especialmente latas vazias de mil e uma coisas (à americana. pois claro).
Se bem que haja um rol de coisas a apontar a este Festival de 1977, não é possível deixar de esperar que a semente germine com muito maior força em 78 e que os frutos sejam muito mais doces em 79, etc... O Carlos Parreira, bem como o Carlos Armando, o Luís, o Duarte Nuno e toda a organização, de uma maneira geral, merecem que o apoio seja massiço para anos futuros. E que não há boas vontades que resistam a prejuízos anuais de mais de trinta contos (por pessoa...). Os Açores e a música não merecem tanta desconsideracão.
MÚSICA & SOM
Reportagem: Bernardo de Brito e Cunha
Fotografia: Lobo Pimentel
1 de outubro de 1977
Alguns dos que me estão a ler, desejariam que esta crónica açoriana fosse, impecavelmente, um alinhar de factos, de números, de nomes, de grupos, de classificações, um enunciar os erros-defeitos ou as qualidades deste Festival. Talvez esses achassem que assim é que devia ser – e talvez tenham razão.
Mas as circunstâncias, ou melhor, o deus ex machina – uma vez que me parece que isto vai ter um pouco de peça de teatro – fez com que tudo saísse do avesso.
Este relato, que por vezes roçará a tragédia, outras a farsa, ou a comédia, obedecerá - tanto quanto a minha memória o permitir a uma (certa) ordem cronológica: quer isto dizer que, para não vos baralhar muito, começarei pelo princípio. Alguém que faça o favor de bater as pancadas de Mollière porque, minhas senhoras e meus senhores, respeitável público em geral, meninas e meninos, a função vai começar!
1º ACTO
Entra em cena o Emanuel, daqui para a frente referenciado como “o tipo da farmácia”, por razões que só dizem respeito ao autor do texto e a mais ninguém. O “tipo da farmácia” entrará em cena três vezes: da primeira, para me dizer com um sorriso cativante que o Musical Açores 77 vai ser uma coisa de arromba; da segunda, para eu assinar um papel segundo o qual, se o avião caísse, eu não tinha direito nem a uma escova dos dentes nova. E eu, que gosto muito, daquela que tenho, velha e tudo, assinei. E aparecerá pela última vez, de ponto em azul e lenço ao pescoço, no aeroporto, para me reconfortar com duas palmadas nas costas e dizer que isto de aviões militares é tão seguro como passear no corredor de minha casa.
Mas, entre a segunda e a terceira aparição, outras coisas se passaram e outros personagens fizeram a sua entrada neste palco que se viria a verificar ser multifacetado. Assim, temos o glorioso fotógrafo de M&S, Lobo Pimentel (nos Açores passaria a ser, para os mais íntimos, simplesmente Júlio) que deve ter chegado ao aeroporto com mais de duas horas de antecedência, que ao fim de um quarto de hora estava com uma fome devoradora e, pouco depois, com um nervoso dos diabos. Grande Júlio!, Que ao longo daqueles dias me atiraria, de vez em quando e como convinha ao papel, um sorridente “também tu. Bernardo!” Grande Júlio, a quem ficamos a dever os cartazes desta peça – que é como quem diz, as fotografias.
Entretanto, enquanto o Lobo Pimental passeia incansavelmente a sua fome e o seu nervoso da esquerda alta para a direita baixa, novos personagens vão surgindo. Caras meias de sono ainda, meias de desconfiança perante aquele hangar frio, aquele espaço que não é, realmente, o delas – um espaço que é muito mais pertença dos figurantes que, de uniformes vários, esperam com a calma feita pelas experiências anteriores. E, portanto, extremamente fácil a um espectador não muito atento, distinguir quem é quem e ao que vai.
Algumas caras conhecidas. Mas eu e o Lobo Pimentel devíamos ter carimbado na testa um «M&S» qualquer que (parecia) assustava as pessoas. Não fosse a chegada do António Amaral Pais, e para ali teríamos ficado, quase que sei lá o quê.
O Lobo Pimentel – a quem, por facilidade, passarei a chamar por LP, que tem muito de música e de som e, quando chegar a altura, passará então a Júlio – refugia-se numa espécie de unicidade (?), de fidelidade (como eu lhe viria a chamar mais tarde) para comigo verdadeiramente tocantes.
Convém fazer aqui, antes que seja tarde, uma pequena advertência: é que eu “embarcara” nesta coisa do Musical Açores sem fé nenhuma. Para que conste e, sobretudo, para que (espero) lá mais para o fim da peça, se perceba como as pessoas podem estar enganadas. E eu estava, efectivamente.
Uma certa esperança despertou-nos então um pouco: era a perspectiva de nos despacharmos da bagagem. O LP deve ter sido o primeiro a atacar as balanças, talvez com medo de deixar uma mala em terra. O facto de começarem a pesar a bagagem pareceu-nos significativo – era, sinal que havia mesmo avião.
Os grupos eram, sem dúvida, os mais movimentados: transportavam quantidades de material que pareceram perfeitamente incomportáveis, fosse que para avião fosse. Mas, surpresa das surpresas!, apenas houve que limitar a quantidade de gelo que os Beatnicks levavam para produzir fumo...
E, por fim, lá acabámos por entrar para o avião. Que vos poderei contar de uma viagem de quatro horas? Que achei incrível que o cabo (seria? Isto de fardas, para mim, continua a ser aquela incompatibilidade) que fazia às vezes de hospedeira, fosse todo ele atenções, bolachas e bombons para, com uma americana (jovem), mas de todo em todo bastante desinteressante, enquanto todos nós, todos os outros, todo o resto, se roía de fome talvez: ou, para não vos parecer mesquinho, que foi durante a viagem que o Amaral Pais começou a enunciar as coisas que não trouxera. Ou que, a meu lado, o LP dormitava de quando em vez. Tentei entusiasmá-lo (acordá-lo?) com a sugestão de uns códaques aéreos, mas ele respondia aquilo que repetiria mais tarde um sem número de vezes, a propósito das mais variadas coisas: “Oh filho! Farto de tirar códaques aéreos estou eu”. Encaixei e pronto. Mas, tal como prometera “o tipo da farmácia”, chegámos. Moídos, a morrer de fome, com uma grande dor no pescoço, mas chegámos. Que vos elucide que o Musical Açores 77 teria lugar a 13 e 14 de Agosto e que tudo isto se passou na véspera – a 12, para os que forem avessos a aritmética.
À nossa espera, vários elementos afectos à Organização. Não havia banda, nem discursos, nem flores (houve quem protestasse quanto a este ponto, mas só mais tarde se poderia resolver o problema), mas havia, em contrapartida, um cortejo de carros para nos transportar. E lá, estava, sobressaindo – como sempre – do resto da Organização, o Parreira. E vocês, que não conhecem o Parreira, nem sabem o que estão a perder. O Parreira poderia ser o ponto desta peça – porque o era, efectivamente.
Para este ultimo quadro, o cenário pode representar uma quantidade (grande) de aviões americanos. Desembarcar na Terceira é, de certo modo, pelo menos sensorialmente, como desembarcar na América mas nem nacionalizada, nem nossa. O Amaral Pais que vos conte o que custa entrar na Base.
2º ACTO
Arrumámo-nos nos carros e, depois de explicarmos ao Parreira as nossas carências gástricas, ele concordou em absoluto, é que íamos deixar primeiro a tralha e que iriamos almoçar logo de seguida. Foi só então que soubemos (o “tipo da farmácia” não tinha sido capaz de me elucidar quanto a esse aspecto) onde iriamos (alguns) passar as noites: num antigo “'seminário de Padres Holandeses, perto da Praia da Vitória. Uma certa surpresa nalguns rostos. mas o que é verdade é que quase toda a gente aceitou o seminário: talvez fosse da fome, não sei. Ou talvez – para aqui sim, sou capaz de me inclinar – fosse porque, em poucos minutos, quase toda a gente fora capaz de compreender que a Organização trabalhava em condições extremamente adversas e que estava a fazer, literalmente, o impossível. Apesar do que, durante todo o tempo, não deixou de pedir continuamente desculpas e de garantir que para o ano vai ser muito melhor. Ah, Parreira! Se tu soubesses o que tudo aquilo foi para nós! Se tu soubesses que grande parte dos que lá fomos estamos quase a morrer por voltar e que, outros ainda (e aqui entro eu) estão a pensar se não será possível abandonar tudo e ir para a Praia da Vitória fazer o que quer que seja...
Foi então a vez de conhecermos o restaurante do Armandinho, contra o qual clamaríamos imprecações contínuas mas que, no fundo, ficámos a adorar. Nessa tarde de sexta-feira muitos poucos lhe puseram defeitos – a fome era negra... E pouco ligámos ao calor, à falta disto ou daquilo.
Nessa tarde, embarquei com um pequeno grupo até à praia. E apesar dos avisos enérgicos do fiel LP («oh filho, tu lembra-te que estas a fazer a digestão!!!”), mergulhei. Pois se nunca ligara a esses problemas, não era naquele dia, decididamente, que o iria começar a fazer!
Foi aliás, durante essa excursão balnear, que tomei conhecimento que um dos melhores remédios para as insónias são biscoitos. Aqui fica, para quem já tiver experimentado de tudo.
Entretanto, a Organização lutava com os problemas habituais: e na altura em que eu mergulhei, estavam ainda a montar o palco. Para lá dos outros, dos problemas grandes: conseguir a garantia de que não há cortes de electricidade, na zona da Praia da Riviera – a electricidade é racionada pelas diversas partes da ilha –, problemas de dinheiro. Principalmente problemas de dinheiro: algum dos que teve a paciência para chegar até aqui acreditará que a Delegação Regional de Turismo deu um subsídio de cinco mil escudos? Subsídio, não: cinco contos para um festival que atraiu cerca de oito mil pessoas até àquela zona, só merece o nome de “esmola”. Tal como é extremamente lamentável a atitude da Capitania, que exigiu 1.500$00 pelo «aluguer» da praia... E qualquer das entidades sabia que o Festival seria gratuito. Será, portanto, de realçar que o Comércio de Praia da Vitória, ao contribuir com 20.000$00 foi capaz de ver aquilo que as entidades oficiais não descortinaram: que este Festival Açores 77 era uma potencial fonte de receita, era um cartaz turístico de se lhe tirar o chapéu. Daqui faço a proposta: que os comerciantes passem a ocupar os lugares da Delegação Regional de Turismo e da Capitania do Porto, e que os funcionários destas passem a aviar ao balcão.
3º ACTO
O terceiro acto começa com uma imagem – que se viria a repetir quase doentiamente – a solo: António Amaral Pais tem neste acto o primeiro gesto do show que levaria a cabo (e paralelamente) durante todo o Musical Acores. Tão fácil como isto – AAP encontrou, na berma da estrada que ligava a praia ao seminário, uma lata (vazia) de cerveja. Achou uma maravilha: e, a partir daí, começou a colecção. E, segundo dizem as más línguas (e também aquelas que lhe pegaram no gesto e que não conseguiram arranjar um exemplar de todas as latas...), parece que AAP trouxe para Lisboa um carregamento de 21 latas. Vazias, repito.
Entretanto, o Parreira levar-nos-ia, à noite, a visitar o local do crime para tomarmos conhecimento do sítio e também para concluirmos que, para véspera, as coisas estavam um pouco atrasadas. Mas o Parreira continuava com a óptima disposição que o caracterizaria, gritando várias vezes aquilo que se tornaria assim a modos que o seu slogan, “tem mú-sica!!” E viria, efectivamente, a tê-la.
(É possível que neste momento se interroguem acerca das razões que me levam a chegar ao terceiro acto sem que nada de visivelmente excitante se tenha passado. Mas, se conseguiram aguentar até aqui, serão recompensados: é agora que isto vai começar a aquecer).
Sábado. Primeiro dia de festival. E se vos contei tudo aquilo que ficou atrás (bem como aquilo que ainda se seguirá), foi pela única razão de também todas aquelas pequenas coisas terem sido música, por todas elas terem influenciado os músicos que actuaram. Esta, pelo menos, a maneira como eu vejo as coisas. Por exemplo, o dia começou com uma querela entre músicos e que viria a afectar as relações subsequentes. O grupo CAIRO não gostou de ter sido acordado por engano e, talvez consequência desse acto (não premeditado) o grupo chegou à conclusão de que o seminário não reunia as condições mínimas e mudou-se, a expensas suas, ninguém sabe para onde. De resto, o grupo nem sequer actuaria – primeiro por não ter material à altura e, quando o teve, porque foi considerada tardia a hora. Foi proposto ao grupo actuar no segundo dia, mas tal não viria a acontecer.
Em relação à ilha Terceira, tenho recordações óptimas – e outras menos boas. Foi o que aconteceu, por exemplo, durante a tarde de sábado, em que alguns de nós fomos assistir a uma tourada à corda. E eu, por muito que viva (como soe dizer-se), nunca hei-de esquecer aquele touro que mistura patas com corda e cai, de lado, com um ruído surdo, extremamente forte. Suficiente para não o esquecer tão depressa.
A noite. o Festival começaria com o atraso que a véspera deixara prever. Mas a circunstância é quase uma regra em festivais deste género e só teve consequências mais adversas porque o anti-ciclone começou a funcionar e a chuva começou a cair. Aí, muita gente se levantou da areia, pegou no seu cobertor e desandou. Extremamente oportuna a intervenção de um elemento que se encontrava no palco e que gritou “Não vamos deixar a chuva vencer este festival. Creio que isto deve ter funcionado para muita gente, porque muita gente parou, olhou hesitante o cobertor húmido, e se tornou a sentar. Para vosso descanso, a Imprensa tinha sido fornecida também com cobertores. Pelo Parreira, como penso que seria escusado dizer.
Musicalmente, as atenções estavam centradas no grupo ATLANTYS que viera, cheio de requintes (?) lá das américas: seria, aliás, assim que passariam a ser designados. No entanto, os ATLANTYS apenas foram capazes de demonstrar que vinham carregados de artifícios, de luzes, de fumos: e foi um pouco desse fumo que o público acabou por receber. Mas, quanto a esses, remete-os para a entrevista que o AAP fez ao leader (quase que poderia dizer “dono”) do grupo, o seu vocalista Marc Dennis. A música, a melhor de toda que por aquela Terceira se ouviu, foi fornecida pelos dois grupos que, da Amadora e de Odivelas, até lá se deslocaram: os BEATNICKS e os ARANHA. E destes, pessoalmente o último dos dois foi uma surpresa muito agradável – contra a opinião, largamente generalizada, de que os BEATNICKS tinham sido melhores: mas já estou habituado".
Ficaria mal comigo mesmo se não falasse aqui no duo LICÍNIO-MORENO, não porque tenham sido bons, mas pelo empenho, pela aplicação, pelo seu (deles) narcisismo. Um duo que passava todo o seu tempo no Seminário: a ensaiar. Suspeito que sei de cor algumas das suas canções.
Mas, mais do que a música, interessa aqui dizer que fazer um festival destes nos Açores, sabendo a Organização à partida que iria ter prejuízo, é uma coisa que não é muito vulgar. Os responsáveis, os representantes oficiais do turismo, por exemplo, tiveram aquela estreiteza de visão que, infelizmente, nos parece caracterizar. Mas enquanto o Parreira existir – e o Duarte Nuno, e o Liberal, e os outros – o Musical Açores será uma coisa que aqui, no Continente, não poderá nunca ser imitado. Por isso se dizia que “Parreira há só um: o da Terceira e mais nenhum!”
E vai daqui (mais) um grande abraço para a Organização e, que me perdoem os restantes, muito especialmente para esse pequeno-grande Parreira: o único homem que eu conheço que parece ter o dom da ubiquidade.
E que por isso. TEM MÚUUU-SlCA!!!!!
BERNARDO DE BRITO E CUNHA
Atlantys – Rock and Roll com apelido português
ATLANTYS é o seu nome. A sua origem é açoriana. A nacionalidade, americana. Os apelidos, portugueses. Quem são, de que se trata, que música tocam, eis algumas questões que colocamos ao vocalista e leader Marc Dennis, um jovem professor do curso bilingue (português-inglês) de Fall River, Massachusetts, Estados Unidos. A actuação do grupo Atlantys no Musical-Açores 77 chamou a atenção dos presentes – músicos, jornalistas e espectadores – pela espectacularidade da sua exibição, que pretendeu pôr o acento tónico no espectáculo propriamente dito, entendido como complemento da parte musical. Interpretando as suas músicas na linha do mais rigoroso rock and roll, digamos mesmo do hard rock, os Atlantys lograram conseguir com a sua actuação uma extraordinária adesão dos presentes na praia da Riviera, especialmente das largas dezenas de jovens americanos em serviço na vizinha Base das Lajes, sensíveis às “palavras de ordem” do vocalista Marc Dennis, evocativas de um tal “America Super-Power, isn’t it?” e outros lugares-comuns do género. Durante a longa conversa entre Marc Dennis, Bernardo Brito e Cunha e eu próprio, foram abordados estes e outros temas da música e do seu enquadramento no Festival, cuja importância assinalamos, até porque os Atlantys constituem um resultado híbrido e singular de duas culturas particularmente distantes – a portuguesa das ilhas e a americana – que utiliza o rock como linguagem e comunicação.
A UNIÃO
Reportagem: João Rocha
Fotografia: Mais informação
19 de setembro de 1988
RIVIERA HÁ 21 ANOS
Há cerca de 20 anos, os vossos pais, muito possivelmente, também pisaram o risco ao enfrentar longas noites musicais em pleno areal (na altura muito mais abastecido) da Praia a Vitória, totalmente indiferentes aos apelos paternais.
Sabe do que estamos a falar? ... Aqui fica: festivais de Música dos Açores, que decorreram nas primerias semanas de Agosto de 1976 e 1977 e que ficaram catalogados na memória colectiva como festivais da Riviera.
Música no areal da Praia Riviera no lugar da Saudade
Se o leitor estiver na faixa etária da adolescência/juventude leia com atenção o que se segue e, estamos convencidos, acabará deveras surpreendido.
Para já, admita que, pelo menos ao nível do pensamento, já chamou “caretas” ultrapassados” aos vossos pais sempre que levam uma ensaboadela da ordem após mais uma chegada tardia nas noites em que a porta de saída da discoteca é encontrada já nos últimos suspiros da madrugada.
“Já tens idade para ter juízo!”, “no meu tempo não era assim” são, por norma, os sons da retaliação paternal aos desmandos temporais dos jovens de hoje.
Não é que isto mate alguém, mas, convenhamos, mesmo tendo uma cabeça aberta a correntes de ar – tipo entra uma coisa pelo ouvido logo sai pelo outro-, a juventude, às vezes, também fica com os tímpanos a chiar e gostaria, certamente, de responder na mesma moeda.
Fazendo a vontade aos mais novos, aqui fica uma “dica” para o confronto verbal com os progenitores quarentões ou cinquentões, encalhados no comodismo de uma noite de televisão enrolados no sofá em perfeita conivência com as pulgas do animal de estimação.
Há cerca de 20 anos, os vossos pais, muito possivelmente, também pisaram o risco ao enfrentar longas noites musicais em pleno areal (na altura muito mais abastecido) da Praia da Vitória, totalmente indiferentes aos apelos paternais (os avós, se quisessem, podiam se uns perfeitos aliados dos netos...).
Sabe do que estamos a falar?... Aqui fica: festivais de música dos Açores, que decorreram nas primeiras semanas de Agosto de 1976 e 1977 e que ficaram catalogados na memória colectiva como festivais da Riviera.
“Woodstock” na inspiração
Carlos Parreira, hoje empresário do ramo turístico, era, por aquelas alturas, um jovem saído da tropa fascinado pelo filme “Woodstock”, marcante para a geração dos anos sessenta.
Daí até fermentar a ideia de realizar um festival de música na Praia da Vitória foi um passo de caracol. Mesmo contando com a desconfiança dos seus colegas de organização – Carlos Costa (hoje empresário), Jorge Miguel (funcionário da SATA), Alfredo Goulart (empresário) e Luís Dores (emigrado nos EUA e ex-baterista dos “Sombras” e primeiro DJ da Twin’s Pub) -, Parreira lá conseguiu avançar com o festival em 1976, só com conjuntos locais, mas já com uma grande adesão de público que apanhou de surpresa a secção de trânsito da PSP, no tempo em que só se sopravam balões para as brincadeiras infantis.
Foi bom, mas o melhor estava para vir: a segunda edição, no ano seguinte, onde grupos locais, regionais, nacionais e norte-americanos animaram uma plateia estimada nas 10 mil pessoas que marcaram presença de sexta a domingo, na primeira semana de Agosto de 1977.
A Força Aérea deu uma colaboração inestimável no transporte dos artistas, a organização vendeu umas t-shirts para ajuda na alimentação e os espectadores (vindos de quase todo o arquipélago) assistiram ao “único grande festival de rock realizado este verão em território português” – acabamos de citar o excerto da reportagem assinada por Helena Vaz da Silva no “Expresso”, jornal então dirigido por Pinto Balsemão e com Marcelo Rebelo de Sousa como sub-director.
Acresce que os artistas (Lena D’Água, na altura Lena Martins, era a vocalista dos “Beatnicks”) ficaram instalados no antigo seminário Padre Damião – actual Escola Preparatória da Praia da Vitória -, enquanto os jovens acampavam (muitos deles sem barraca...) no extenso areal da cidade de Nemésio.
A organização, praticamente sem apoios, entrou com 12 contos (o ordenado mínimo, na época, não chegava aos dois mil escudos) e o Festival da Riviera era cartaz nacional e prometia novas façanhas em próximas edições.
Causa soviética e último desejo
Por tudo isso, os artistas começaram a ficar mais exigentes e a Carlos Parreira, e aos seus amigos, não restou alternativa senão bater à porta do Governo Regional, via secretaria da Cultura, a pedir uns apoios para pôr de pé a terceira edição.
Os governantes, contudo, não fizeram a vontade. Alegaram que o Festival era uma porta aberta para a entrada de droga, que a “populaça” deixava a praia num estado lastimável e, já agora, que o rock não era cultura.
A razão da nega, para Carlos Parreira, é bem diferente. A comunicação social local anunciara recentemente que para o festival de 1978 estava segura a participação de um grupo musical soviético, por via de interferência da associação Amizade Portugal/União Soviética.
Como, na altura, os comunistas ainda tinham fama de comer criancinhas ao pequeno-almoço (os pedófilos não eram moda...), o melhor era acabar com o festival, cujo modelo serviu de inspiração ao “Maré de Agosto”, em Santa Maria.
Face a isto, e enquanto há areal na Praia da Vitória, Carlos Parreira já vai sensibilizando as entidades competentes para apoiarem um espectáculo a assinalar o 25º aniversário do primeiro festival.
Parreira acha que seria numa oportunidade “óptima” para um encontro inter-geracional acolhido pela magia da música.
Se tudo correr bem, lá para a primeira semana de Agosto de 2001, a ilha vai viver uma noitada em grande sem que alguém – do pai barrigudo e careca ao filho com brinquinho da orelha e boné de pala virada para trás – se ache no direito de dizer: “está na hora de ir para casa”. Vai uma aposta?
Restaurante deu nome
Riviera foi a designação com que os festivais de música da Praia da Vitória de 76 e 77 ficaram conhecidos para a posteridade.
E Riviera, porquê? Pelo simples facto de nessa duna, totalmente absorvida pela nova doca do porto da Praia, ter funcionado durante 10 anos – década de 60 até princípio da de 70 – um empreendimento comercial de nome... Riviera.
Tudo começou com um bar e esplanada de apoio aos banhistas e avançou para o solar da Riviera (o dono aplicou um estrangeirismo oriundo das costas do sul de França e Itália), casa de madeira com decoração rústica e restaurante para 120 pessoas.
Serões musicais, parque de estacionamento, frango assado de alto paladar deram nome à casa cuja tabuleta Riviera acendia e aquecia as noites do espaço mais “in” da Terceira, onde a elite (os que tinham carro, para simplificar) fazia questão de marcar presença assídua, sobretudo na época de Verão.
Projectava-se novos investimentos – cozinha e sala de jantar com decoração marítima – quando um incêndio, numa ventosa manhã de Abril de 1970, reduziu a vitória do esforço e engenho humano sobre a natureza (o proprietário teve, entre outras coisas, de elevar a cota da superfície do terreno e de arranjar forma de transportar água de um chafariz) a meras cinzas.
Para cúmulo dos azares, o incêndio, que pode ter tido origem num curto circuito ou numa brasa por apagar da lareira, não pode ser atacado de imediato, porque a primeira viatura dos bombeiros capotou, provavelmente por ter o tanque da água demasiado cheio, antes de chegar à Riviera.
Com as atenções também centradas em investimentos comerciais em Angra do Heroísmo e apanhado desprevenido pelas exigências salariais decorrentes da Revolução dos Cravos, o dono da Riviera não quis arriscar mais.
Posteriormente um inglês quis explorar o espaço, mas a burocracia deixou-lhe de mãos atadas. Ontem como hoje...
DIÁRIO INSULAR
Reportagem: Helena Fagundes
Fotografia: António Araújo, Carlos Armando Costa
05 de abril de 2009
Da estância de luxo ao
AS HISTÓRIAS DA RIVIERA
Na década de 60 a Praia da Riviera deixou de ser um local isolado e esquecido para receber a estância balnear que lhe deu o nome. Era o tempo dos concertos e serões com as altas patentes da Base das Lajes. Mais tarde, a Riviera foi palco do primeiro festival de rock do país. Da época de ouro ao “sexo, drogas e rock n’roll”, DI conta-lhe a história toda.
Uma estância de luxo reduzida a cinzas deu o nome à praia que, na década de 70, recebeu o primeiro festival de rock do país: o
Na década de sessenta, a Riviera era um local isolado e inabitado, junto do antigo Paul do Cabo da Praia e do Forte de Santa Catarina. Entre esta praia e a dos Sargentos existia a Blue Beach, uma espécie de areal privado dos norte-americanos, com bar e nadadores salvadores portugueses. Mas foi na praia isolada que, em 1961, Orlandino Mendes viu a oportunidade para o negócio.
Construiu uma estância balnear, com bar, quatro balneários individuais, esplanada com 14 metros por seis e um restaurante com seis metros por 12, lareira e decorado com motivos regionais. No exterior estavam bar-b-cue pits, grelhadores onde se podiam cozinhar petiscos enquanto as ondas rebentavam e o sol brilhava.
A essa estância balnear, Orlandino Mendes deu o nome de “Riviera”. E a estância deu o nome ao areal. Primeiro com os americanos da Base das Lajes que falavam da “Riviera beach”. Depois, toda a população se habituou a chamá-la assim.
Para servir a estância, Orlandino Mendes construiu um parque de automóveis e 40 metros de estrada, ambos alcatroados. Com a ajuda dos americanos da Base e as suas carrinhas pick-up, ergueu o nível da estrada em 80 centímetros. Chegaram ao local, com esforço, água canalizada e electricidade.
A clientela americana, da mais selecta da Base, era a mais frequentadora da estância, por onde também passavam as melhores famílias da ilha. Essa foi a época dourada da Riviera, com salas cheias das mais altas patentes da base militar, comida e bebida "do melhor", que a "Riviera não era uma coisa qualquer".
Cheiro a charutos e o tilintar dos copos...
Era um ambiente muito selecto”, lembra Orlandino Mendes, tantas décadas depois, do outro lado da linha telefónica, em Lisboa. “Servia-se marisco, lagosta, frango assado a carvão”. O frango congelado tinha de ser importado do aviário do Frexial, no Continente. "O ketchup não era de contrabando americano, mas importado numas latas grandes, de Vila Franca de Xira. Tudo ao pormenor”.
Foi o primeiro sítio de Portugal a servir hambúrgueres e hot-dogs. "Em 1968 estive no Algarve, bem como no 'lnvictus', então o único snack-bar de luxo, no Porto. Bem como num 'similar de hotelaria', muito frequentado por açorianos, aqui na baixa de Lisboa, mais precisamente no Rossio. Pois bem - De Norte a Sul, incluindo Lisboa, não encontrei um só estabelecimento a servir este tipo de sanduíches. Mas o Bar da Riviera sim!", conta.
Orlandino Mendes chegou a pedir um hamburger em Lisboa. "Mas o empregado disse-me desconhecer por completo o que isso era. Pedi então um cachorro. E serviram-me então um cachorro. Que de cachorro só tinha a salsicha, porquanto serviram a pobre criatura dentro de um papo-seco”.
Pela estância passavam nomes distintos da sociedade terceirense e açoriana. Esteve lá o escritor Vitorino Nemésio, que estranhou o nome "Riviera”. Afinal estava-se numa ilha, o estabelecimento de Orlandino Mendes dividia o mundo profundamente rural do Cabo da Praia do mar. Mas o dono da estância não concordou. Estava farto de tudo o que era rural. Riviera é um termo usado para designar um local junto ao mar, perto da costa. Existem a Riviera francesa, a italiana. Esta era a Riviera açoriana", volta a responder, anos depois.
A escala da ilha, esta Riviera tinha o luxo da italiana e francesa. No Verão, o areal e a estância enchiam, de Inverno o frio acalmava os ânimos e instalava-se um ambiente de classe. Era a altura do entretenimento. Apostava-se nos concertos. Fizemos noites de fados, com os melhores fadistas da ilha, como Guy Fernandes, Maria dos Anjos e Maria Emília. Também lá tocaram “Os Sombras”, diz Orlandino Mendes. Um dos momentos altos foi quando cantou D. Vicente da Câmara, perante uma sala quase toda preenchida por oficiais. Dez anos depois de abrir a estância, a época dourada da Riviera desfez-se em cinzas. Orlandino Mendes lembra-se "como se fosse hoje”.
Ainda hoje não sei precisamente a causa do incêndio, o que me intrigou durante algum tempo, mas sei que na véspera tinha havido uma reserva, no 'Solar da Riviera' (sala esta totalmente construída em madeira, bem como a sua primeira cozinha), a várias famílias americanas, a qual acabou, como era costume, às tantas da madrugada. No dia seguinte, à tardinha, principiámos a ver um fumozinho, com cinco a 190 cm de altura, a sair pelas fendas do sobrado, muito próximo da lareira”, adianta. "De imediato, eu e o empregado Fernando pegámos numa mangueira de água e, pelo exterior da construção, fizemo-la entrar depois do sobrado, sob o qual existia uma duna".
O fumo desapareceu por essa noite. “Parti para a minha residência, em Angra, tendo alertado o guarda-nocturno para o que se tinha passado. E deixando-o bem prevenido para que me telefonasse e ao mesmo tempo o fizesse para a bombaria, caso presenciasse a saída de mais algum fumo. Este guarda-nocturno tinha o seu horário a partir da uma ou duas da manhã até mais ou menos as sete da manhã, hora que terá saído e nada de anormal me informou. Eis senão quando, se bem me recordo, entre as nove e as nove horas e meia da manhã, fui alertado, em Angra, que seguisse de imediato para a Riviera, que estava a arder", recorda.
Parecia maldição”, pensa em voz alta Orlandino Mendes, quando se lembra que, ao chegar às Tronqueiras, viu o carro de bombeiros da Base americana capota- do, a uma distância muito curta do local do incêndio. O bombeiro português Mário Tanoeiro foi atirado para o hospital da Praia, em perigo de vida.
Meia década depois de as chamas terem reduzido a cinzas a Riviera de Orlandino Mendes, soou o rock. Tudo começou no escuro de uma sala de cinema, em 1969, na Base das Lajes. Quando o grande ecrã se encheu com as imagens “cool” e loucas do filme Woodstock, Carlos Parreira teve um pressentimento. Tinha então pouco mais de 20 anos e os seus ídolos eram Jimmy Hendrix e Joe Cocker. Mas Woodstock não era possível na ilha, pois não?
Em 74 cumpriu serviço militar no Porto. Pouco depois do regresso, numa das conversas de café com aos amigos, surgiu a ideia: Um festival, com música todo
o dia e toda a noite, como no Woodstock. O local seria a praia da Riviera, no Verão. E nascia o
Carlos Armando Costa, outro dos organizadores do festival, lembra que "nada era como hoje em dia”. Carlos Parreira solta uma risada. "Apresentei essa ideia aos meus amigos, ao Carlos Armando, ao Luís Dores, ao Jorge Gabriel, ao Alfredo Goulart, ao Albeche Marques... Mas era difícil organizar um festival. Ninguém sequer pensava em subsídios ou apoios. Conseguimos a colaboração dos americanos e do sr. Oldemiro Cardoso, empreiteiro, que nos cedeu uns andaimes para fazer de torres, para o palco, bem à maneira do Woodstock. A câmara disponibilizou uma máquina para limpar o areal". O palco propriamente disto foi feito com barris de gasóleo vazios e um estrado. "José Luís, um emigrante de São Jorge, a emprestou a aparelhagem de som para o festival”, lembra Carlos Parreira. O resto foi planeado durante longos dias, no terraço de Carlos Armando, então com 20 anos e fã de bandas como Led Zeppelin.
A primeira edição do
Os americanos, como em tudo nessa época, eram uma presença muito forte. "A cultura musical que se vivia na Praia era muito diferente da do resto do país, e isso também nos influenciou. Na altura a Base tinha quatro clubes, abertos pela noite dentro. A Base não dormia. Actuavam lá bandas vindas da Irlanda... Tinha-se acesso a álbuns muito antes de estes chegarem a Lisboa”, recorda Carlos Parreira.
Actuaram várias bandas da Região, como os "Bárbaros”, bem como Zeca Medeiros. Um concerto que ficou na memória de muitos, incluindo Carlos Parreira. Era seis da manhã e o Zeca Medeiros saiu da tenda, subiu ao palco e começou a cantar. Era o pessoal todo a sair das tendas, ensonado, algum ainda meio pedrado da erva que circulava. E a voz dele... Àquelas horas. Foi uma coisa completamente irrepetível”.
Esse foi também o ano em que o festival provou ser capaz de abanar a estrutura de uma sociedade fechada como a da Terceira no pós-25 de Abril. "O sr. Tieres Cunha chegou-me a telefonar a dizer para eu vestir aquela gente. Referia-se aos americanos e às americanas que iam tomar banho nus. Disse-me que não queria que os filhos vissem coisas dessas", conta Carlos Parreira.
A erva, que circulava na ilha com os americanos, também fazia parte das horas do festival, alimentadas a música, copos, sol e mar. "Mas não era nada como aquilo que se vê hoje em dia, com gente para aí a injectar-se pelas ruas. Era erva, simplesmente. E nem se pode dizer que o festival tenha introduzido a erva na ilha, ela já circulava antes”, assegura.
Se a primeira edição do festival foi regional, a segunda deu o salto para o panorama musical nacional. Por vezes as coisas nascem de coincidências, lembra Carlos Armando. “Eu colaborava às vezes com um programa do Rádio Clube de Angra, porque tinha muitos álbuns de música rock. Um dia encontrei lá o marido da Cândida Branca Flor e acabámos por falar do festival. Ele deu-me alguns contactos e ofereceu-se para ajudar".
No pós-25 de Abril, um Movimento das Forças Armadas prestável permitiu que Carlos Armando viajasse num dos aviões da Força Aérea até Lisboa, onde os contactos produziram efeitos. Actuariam, na segunda edição do festival, entre outros grupos, os Beatnicks, a banda que deu a conhecer Lena de Água, e os Tantra.
Em 77 o palco já era melhorado. Viajaram até à ilha jornalistas como Helena Vaz da Silva e Bernardo Brito e Cunha. O festival ganhou projecção na revista ”Músi- ca e Som" e no semanário Expresso. "Foi uma coisa interessantíssima. Os jornalistas estavam muito surpreendidos, não imaginavam nada assim numa ilha como esta. Ficavam também maravilhados com latas de Coca-cola e Fanta de uva, que ainda não existiam no Continente. Guardaram-nas como se fossem artigos de colecção”, ri-se Carlos Parreira.
Mas os anos loucos da Riviera tiveram rapidamente um fim. Numa sociedade conservadora e fechada, o festival de rock era uma pedrada no charco, rotulado como tendo disseminado a droga na ilha e quebrado os “bons costumes”. O rock era conotado com a droga e o sexo.
Nesta terceira edição queríamos ir mais alto. Já estávamos a pensar em trazer os Sex Pistols, da Inglaterra. Na altura já havia a secretaria regional da Cultura, liderada pelo Dr. José Guilherme Reis Leite e pelo dr. Jorge Forjaz. Pedimos apoio. Um dia liga-nos o presidente da Câmara da Praia a dizer que temos de ir a Angra, para uma reunião com o secretário regional da Cultura. Ficámos logo animados. Mas chegámos lá apenas para ouvir que o festival não tinha interesse nenhum, nem turístico, nem cultural”, diz, pesadamente, Carlos Parreira, abanando a cabeça. "A viagem de volta foi triste”.
As pessoas estavam habituadas a chás dançantes, a música clássica... O
Max e o músico Luís Bettencourt, que viveram o festival, levaram depois as sementes da ideia para Santa Maria, onde criaram o Maré de Agosto. Hoje, mesmo depois da gestão da Riviera ter passado para as mãos de Câmara Municipal, os dois colegas que, aos 20 e poucos anos, iniciaram O
Para trás ficam os episódios curiosos, o espanto dos jornalistas do Continente perante o Woodstock açoriano, os dias e noites de música, corpos jovens e nus arremessados contra as ondas mornas de Verão, a miragem dos Sex Pistols. O que mais guardam os dois amigos, do festival da sua juventude? Carlos Arman- do responde. “Sobretudo, mostrámos que era possível fazer algo assim na Terceira, numa sociedade tão fechada. Antes, toda a gente achava que aquilo era algo que nunca poderia existir na ilha. Quebrámos a barreira do impossível”.
DIÁRIO INSULAR
Opinião: Fernanda Ávila
26 de maio de 2009
Riviera, também estive lá
Na revista do Diário Insular do dia 5 deste mês, vem uma reportagem que nos conta um pouco do que foi a Praia da Riviera há uns anos atrás.
Nesta edição, falou-se da Riviera, mas esta excelente revista tem-nos dado a conhecer aspectos da ilha Terceira deveras interessantes.
Esta revista que saiu pela primeira no dia 13 de Abril de 2003, aos poucos tem vindo a mostrar-nos coisas que a maioria das pessoas desconhece. Com temas variados, o Diário Insular, ao lançar esta revista, prestou-nos um precioso serviço, trazendo ao nosso conhecimento informação que de outra maneira não teríamos acesso. Posto isso, agora que esta revista, que sai aos Domingos, está a fazer 6 anos de vida, o Diário Insular está de parabéns. Ainda me lembro como se fosse hoje, do primeiro Festival de música, que se realizou em 76 na Praia da Riviera e, fazendo minhas as palavras do Carlos Costa, um dos organizadores deste famoso festival, “nesse tempo nada era como hoje em dia”. Na verdade, esses eram outros tempos e também outras pessoas, era o tempo em que se faziam as coisas por amor à camisola.
Por vários motivos, a Praia da Riviera deixou “marcas” naqueles que hoje estão na casa dos quarenta, cinquenta anos. Este foi, sem dúvida, um lugar “mágico”, em especial para todos que tinham um espírito mais “aventureiro” e que viviam para os lados da Praia da Vitória. Tanto no primeiro, como no segundo festival, as coisas foram organizadas e vividas com grande desprendimento, mas tudo foi feito com “pés e cabeça”, daí o sucesso que estes dias de música trouxeram a esta ilha e não só. A Praia da Vitória, desde sempre, foi um lugar virado para a música e ali nasceram famílias inteiras com aptidão para esta arte. Os que ali moravam e tinham acesso a base iam lá e vinham cá para fora com ideias novas que depois punham em prática, todos sabemos que quem morou na até então vila da Praia sofreu muitas influências das vivências americanas. Ao falar em música, não podemos esquecer que ainda antes dos festivais da Riviera já haviam os bailes nas muitas esplanadas que existiam por aquelas bandas e penso que, embora noutro contexto, qualquer destes acontecimentos contribuíram para que a Praia da Vitória ficasse para sempre com uma grande ligação à música.
Por mim, assisti a isto tudo de perto, primeiro através os meus irmãos mais velhos, que iam aos bailes onde os “Sombras” e os “Bárbaros” tocavam, e até me lembro de ouvir dizer que existia uma certa “rivalidade” entre estes dois grupos. Mais tarde tive a sorte de assistir ao vivo aos dois festivais na Praia da Riviera e tenho a certeza que quem lá esteve nunca esqueceu o que foram aqueles dias. Agora, embora já tenham passado mais de trinta anos sobre os acontecimentos da Praia da Riviera, a entrevista dada ao Diário Insular pelo Carlos Parreira e Carlos Costa veio avivar a memória dos que lá estiveram. Avivou-nos a memória e, ao mesmo tempo, veio mostrar aos mais novos que os “cotas” daquele tempo, sem as modernices de hoje, também se divertiam.
Usavam a imaginação para passar o tempo sem precisar recorrer a coisas tolas e “perigosas” que, infelizmente, abundam neste “nosso” mundo de hoje dito desenvolvido. Actualmente, a Praia da Riviera é uma “sombra” do que foi entre os anos 60 e 80. Presentemente os que têm a mesma idade que tinham os que contribuíram para que Praia da Riviera marcasse uma época estão “noutra onda”.
É como diz o padre Caetano Tomás: “esta, é outra gente”. A ideia com que ficamos é que “esta gente” tem ao seu alcance tudo para ter uma vida melhor do que no “nosso tempo”, mas, ao olharmos à nossa volta, não é isso que se vê, vê-se sim gente insatisfeita sem saberem “para que banda hão de cair”, o que quer dizer que alguma coisa está mal, mas esta é uma outra história que “dava pano pa mangas”. Olhando para trás, sinto que tive muita sorte em ter podido estar ali bem “colada” ao palco na Praia da Riviera e sinto-me mesmo privilegiada por ter feito parte das cerca de oito mil pessoas assistiram ao primeiro festival de música rock do nosso país.
(Edições Musical Açores 76 e 77)
Agostinho Diogo Meneses Ávila
Alfredo Manuel Goulart
António Ázera
António Azevedo
Duarte Nuno Santos
Emanuel Rosado
Holbeche Marques
Jorge Humberto Maciel Borges Miguel
José António
José Manuel Maciel Ribeiro
Juvenal Castro
Larry
Liberal Lourenço
Mário Jorge Pires
Paulo Jorge Ferraz da Rosa
Raúl Meneses Faria
Ruben Bettencourt
Rui Belo Cardoso Leal
(Edições Musical Açores 76 e 77)
Câmara Municipal da Praia da Vitória
Casa do Povo do Cabo da Praia
CNE – Agrupamento XXIII
Comandante da BA4, Gen. Conceição e Silva
Congregação dos Sagrado Coração de Jesus e Maria (Seminário Padre Damião)
Força Aérea Norte Americana (65th Air Force Wing, TTU e Lodging)
Força Aérea Portuguesa
MFA – Movimento das Forças Armadas
Ministro da República para os Açores, Gen. Galvão de Figueiredo
Pedro Cardoso
Rádio Clube de Angra
Rádio Lajes
Restaurante “O Armandinho”
VanPack
Várias empresas da Praia da Vitória
Este é um projeto da Associação Cultural Burra de Milho que pretende dar a conhecer aquele que foi o primeiro festival de Verão realizado em Portugal após o 25 Abril – o Festival
O Festival
O crescimento da Base Aérea n.º 4, instalada na freguesia das Lajes, ilha Terceira, fez com que muitos dos seus quadros de pessoal fossem preenchidos com recursos humanos locais, provenientes das mais diversas freguesias e com as mais diversificadas especialidades.
Isto originou a que houvesse uma grande interação entre os residentes na Base (portugueses e norte-americanos) e os trabalhadores locais, assim como a população da cidade da Praia, em primeira instância, e da ilha, por consequência.
Sem qualquer tipo de experiência de organização, o grupo, liderado em última instância por um núcleo duro (neste projeto representado por Carlos Costa, Carlos Parreira e Luís Dores), começou a tratar dos preparativos.
A escolha do local recaiu sobre a pequena Praia da Riviera, muito conhecida e apreciada na ilha Terceira por ali ter funcionado, até ser consumido pelas chamas num acidente, o Bar da Riviera – mítico espaço da alta sociedade terceirense, que pretendia trazer o
Depois de escolhido o local, a organização optou por realizar um festival de dois dias, com recurso a bandas locais e regionais, uma vez que não possuíam nem os recursos, nem a experiência ou os contactos para aspirar a convites de teor mais nacional.
Vencidas as adversidades e alinhadas as bandas para o espetáculo, o Festival
No dia seguinte, 11 de julho, Sábado, os concertos tiveram início pelas 14h00 e terminaram às duas da manhã.
Animados pelo sucesso da primeira edição, que contou com mais de dez bandas locais e regionais, vindas de São Miguel e Pico, e juntou, na Riviera, mais de 7000 pessoas, o grupo lançou-se à organização da segunda edição, a decorrer no verão de 77.
Graças a um fortuito encontro entre membros da organização e agentes musicais do continente, surgiu a possibilidade de se agendarem bandas nacionais para a segunda edição do
Com contactos de bandas e artistas nacionais, jornalistas e agentes, o grupo lançou-se à segunda edição com redobrada confiança e motivação. O local não poderia ser outro, não fosse este festival vir a ser conhecido, por entre os residentes da ilha Terceira, como o
Assim foi: o
Furiosos do Rock
Realização: Miguel Costa e Rogério Sousa
Captação e Edição de Som e Imagem: Fábio Couto e Jordana Vasconcelos
Produção: Associação Cultural Burra de Milho
ASSOCIAÇÃO CULTURAL BURRA DE MILHO
www.burrademilho.blogspot.com
burra.de.milho@gmail.com
Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo
Canada Nova, s/n – Santa Luzia
9700-130 Angra do Heroísmo
Nota:
A Associação Cultural Burra de Milho não reclama quaisquer direitos sobre as fotografias de terceiros utilizadas e apresentadas neste projeto. Se é detentor(a) dos direitos dessas fotografias e por lapso não esteja devidamente identificado(a), entre em contacto com a organização através de burra.de.milho@gmail.com.